PAI E FILHO: CENA TOCANTE

PAI E FILHO: CENA TOCANTE

Estava voltando do mercado, e antes de chegar ao primeiro cruzamento, me deparei com uma cena muito linda. De longe já diminui o passo para poder observar melhor aquela bela cena, coisa rara de se ver nos dias de hoje, e ali, se apresentava. Dava para perceber que seria algo que valia a pena eu ficar olhando, mesmo sem parar, para que a cena não deixasse de existir, pois não queria que percebessem que os estava observando.

Continuava a caminhar vagarosamente – já começava a sentir o peso das sacolas – mas nada me faria deixar de presenciar aquele homem, por volta de uns 30 anos, e uma criança de uns quase 3 anos – digo isso pela experiência e conhecimento com crianças, por ter tido envolvimento com muitas, além dos meus três filhos, hoje adultos, pelo tom de voz e pela maneira como caminhava- e presenciando um pai que havia cavado um buraco – nesse momento estava passando por ele e já deduzi que o pai tinha feito um buraco para colocar uma placa de PARE e abaixo dessa havia uma outra que não consegui ler, pois era menor e não quis estragar o momento e muito menos perder o diálogo entre eles:

- Oh pai! Posso te ajudá?

E o pai fazendo uma força danada, arfando para conseguir erguer a tal placa que estava há uns 10 passos do buraco – e eu nesse momento passava por eles, vagarosamente, passo de bicho preguiça, para captar melhor a conversa-.

- Qué ajudar o pai? To precisando de ajuda.

O menino então se agacha para pegar no tronco de árvore onde estavam fixadas as placas – o pai já estava conseguindo erguer toda ela para conseguir arrastá-la até o buraco:

- Então vo te ajuda.

E assim segura o tronco com aquelas pequeninas mãos na boa vontade de ajudar, mas percebia-se que estava atrapalhando. E foi isso que me chamou atenção: o pai mudou a maneira de conduzir a placa até o buraco, para que o filho pudesse ajuda-lo, da maneira tão disposta que ele queria. Assim o pai permitiu e valorizou a intenção.

- Isso filho, pega aí para ajudar o pai.

O pai tinha que, além de todo esforço que estava fazendo para segurar a placa, ainda cuidar para que o menino não caísse, pois estava meio de costa:

- Filho, vai pro lado e caminha pra frente (ele estava de lado) e vamos levar até o buraco. Ainda bem que tu tá ajudando o pai, se não fosse tu, eu não ia conseguir.

O menino falou algo que não consegui entender, pois ele também arfava pelo esforço descomunal de segurar aquela placa imensa com suas mãos e bracinhos tão pequenos.

Aquelas palavras me emocionaram, me tocaram fortemente, pela sensibilidade daquele pai em passar ao filho da importância do que ele estava fazendo.

Com essa idade, provavelmente, com o passar dos anos, o consciente dele vai fazê-lo esquecer essa cena, esse momento tão lindo, mas o inconsciente vai estar sempre em alerta e avisando, mesmo sem ele perceber, da importância desse ato do seu pai, e ele vai dar o retorno, com toda absoluta certeza, no momento certo, na hora certa.

Eu continuava caminhando, meio de lado, para não perceberem que os estava observando, até que eles conseguiram – sim, os dois conseguiram – colocar a placa no buraco. Já não conseguia escutar o que diziam:

- Pronto, filho, a placa tá no buraco. E o menino pulava de alegria por ter ajudado. Olhava para o buraco e olhava para o pai que lhe dizia algo, o menino falava também, mas já não os escutava claramente a ponto de conseguir identificar as palavras.

Minha vontade era de ficar mais tempo observando, pois eles ainda tinham que recolocar toda a terra no buraco, fazer algo para ancorar aquela placa, o trabalho continuava, mas eu não podia mais ficar ali, as sacolas já pesavam mais do que eu pensei que pesariam e ainda tinha algumas quadras para enfrentar até chegar em casa.

A beleza daquela cena vai ficar para sempre na minha memória, porque eu a descrevi aqui, e assim jamais a esquecerei, mesmo porque, fazia tanto tempo que não presenciava tamanha cena como essa. Gostaria de ver tantas outras mais como essa, mas nos dias de hoje, dificilmente se consegue captar algo assim tão simples, singelo e grandioso.

( texto escrito em 03/11/2023 – cena ocorrida em 02/11/2023)