Alcoholic
Eu passei as últimas semanas da minha vida com a mente nublada.
Eu acordava e escovava o dente com uma latinha de cerveja. Eu ia trabalhar e só pensava em chegar em casa para poder tomar mais uma. Eu desmaiava a noite sem nem saber que horas eram.
O álcool esteve presente desde minha adolescência e as doses aumentavam a cada desilusão amorosa que eu tinha.
Eu não sei mais quem eu sou sóbria. Eu nem sei se já houve um "eu" sóbria. Talvez eu não seja essa pessoa divertida. Talvez eu beba para que as pessoas gostem mais de mim. Eu sei que uma parte de mim bebe porque não sabe encarar os problemas de frente. Mas essa mesma parte só faz burrada quando fica bêbada.
Então, não adianta de nada fugir de um problema criando mais cinquenta.
As ressacas são as piores. As dores, a ânsia, a vergonha de saber que fez algo, mas não ter a certeza do que foi. O fedor de cachaça exalando de cada poro. O mundo ainda girando.
E mesmo agora, escrevendo sobre como tudo isso é ruim, eu penso se realmente eu quero parar de beber. Se eu vou aguentar os meus míseros problemas de cara limpa.
Deus devia ter transformado água em suco porque até isso eu já usei como desculpa para tomar uma.
Parece algo tão bom e acolhedor. Faz as dificuldades sumirem. Mas acaba com tudo de dentro para fora. Afeta tudo ao redor. A sensação atônita de tudo girando é, na verdade, a visão de tudo sendo destruído enquanto você fica bêbado.
Eu odeio e amo isso ao mesmo tempo. Eu preciso mesmo parar. Antes que esse vício acabe comigo.