DIA DE FINADOS

Quando as covas são abertas, apenas ossários brotam do chão. Os vermes se alimentam do que mais parece estrume para as ramas. O que há de fato naquelas catacumbas? Fotografias esmaecidas; cruzes quebradas; velas em decomposição; rosas murchas... - Epitáfios de gente morta? Sim. Não há mais ninguém ali.

No dia de finados, somos atraídos pelo espetáculo para a repetição de uma consternação. E naquele périplo desproporcional aos cemitérios, vemos: um entra e sai de viúvas; orações em vão; cantos repetitivos; cheiro de extinção e gritos de crianças inocentes. Ruelas de anjos tortos.

A desculpa da “tradição” é uma pausa na evolução do pensamento. Aquele dia, deveria servir de pretexto para o esquecimento dos mortos... Deixar que permaneçam deslembrados. E, por isso, deveria ser um exercício particular, feito um retiro espiritual. Exigir silêncio do silêncio, em respeito aos que se foram primeiro; e não querer se mostrar ao mundo inteiro, como se pedisse perdão pelos seus erros.

O passeio coletivo ao cemitério no dia de finados é um ciclo social endêmico. É quem sabe um abuso. Um dia universal para venerar os mortos! Não há nada mais desnecessário na discussão prática.

(...)

Naquela manhã, acordo como todos os dias. Vejo uma velha senhora, meio capenga, “sombrinha” colorida, puxando um menino que me sorri banguela... - A vida pode ser, absurdamente, deprimente; mas, a morte... - A morte é outra coisa.

Misael Nobrega
Enviado por Misael Nobrega em 02/11/2023
Reeditado em 02/11/2023
Código do texto: T7922785
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