A Hipocrisia da Classe Média Brasiliense

Em meio as aulas de um renomado colégio particular onde desempenho minha função, abrigando os herdeiros bem nutridos e privilegiados da classe média brasiliense, uma inegável ironia política floresce como uma flor putrida a exalar misérias no seio coletivo. Lá, pululam adolescentes que dizem ser apoiadores de Bolsonaro ou seguidores de Von Mises, proclamando com fervor uma hipocrisia liberal que merece ser rechaçada a todo custo.

Eles, com uma desenvoltura digna de pastores de um culto ao Estado mínimo, vociferam contra os serviços públicos, clamam pelas privatizações e taxam os impostos estatais de verdadeiros saques. Mas, oh, surpresa! Quando o vestibular bate à porta, todos anseiam por uma vaga na venerável, pública e gratuita Universidade de Brasília (UNB), a mesma que nasceu dos suspiros do Estado "tirano" que tanto desprezam. E, para piorar, não raro descubro que os pais desses jovens contestadores da esfera pública é, na verdade, servidores estatais a mamar salários e outros benefícios do Leviatã, o qual estrangula a liberdade econômica dos recitadores de Adam Smith.

Eles argumentam em uma profundidade de pires sobre o Estado malvadão e seus impostos opressores, mas, no momento crucial, todos anseiam pelas benesses dos direitos sociais. Nada de procurar o melhor serviço oferecido pela iniciativa privada em faculdades pagas. O negócio é cavar sua vaga sem gastar nenhum capital e ser como os "vagabundos" que são beneficiados por programas sociais ao se matricular na universidade idealizada pelo esquerdista Darcy Ribeiro.

É como observar um espetáculo de comédia, em que o ator principal, um aluno, encarna rigidamente a figura do crítico ferrenho dos programas sociais destinados aos menos afortunados. Entretanto, ao se aproximar o final do ano letivo, esse mesmo ator se transforma em um participante ativo de um programa de baixa renda salarial, na esperança de assegurar uma vaga em uma universidade pública.

Assim, nessa dança da hipocrisia que é a vida dos filhos "coerentes ideologicamente" da classe média brasileira, somos lembrados que esse estrato social sofre da "síndrome de elite". Neste mundo de contradições, onde a crítica fervorosa ao Estado convive harmoniosamente com a busca por seus benefícios, somos convidados a aplaudir o espetáculo cômico da política adolescente hipócrita.

25.02.2018

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 01/11/2023
Reeditado em 01/11/2023
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