Pelo tempo
- Moça, me dá uma passagem para daqui a um tempo, pra aqui mesmo? É só o relógio que vai estar no automático. Eu vou seguir resgatando o melhor de antes e de agora, até lá.
- Um instante da vida moço.
- Isso tudo, moça? De novo? Imaginei que os juros já haviam sido descontados naquelas indescritíveis saudades!
- Outros instantes, moço. E a propósito, que instantes!
- Queria te xingar, sabia moça? Mas de quê adianta me revoltar com isso, que nunca foi só aquilo? Para onde eu vou, você sabe!? E estará lá com o mesmo sorrisinho perverso e a mão no queixo…
- Pode me odiar, moço. Ao menos sorrio. De você e pra você.
- Moça, cancela a passagem! Vou de outro jeito. Dessa vez não quero que haja acidentes no percurso. Às minhas rédeas!
- Não adianta bater em cavalo morto, moço. Está tarde!
- Moça, me dá o relógio! Devolverei para o tempo certo, quando chegar lá. Não vai ser mais necessário, havendo sorriso nos olhos por lá. Os mesmos que foram e são.
- Moço, tira a casca. O sorriso será para você.
- Pode ser que eu não esteja por aqui quando olhar e sorrir de novo, moça. Tenho vergonha de chorar em despedidas. Não vou ficar olhando para trás enquanto fica tudo embaçado. Preciso dar vazão e sentido nessa solitude.
- Moço…???