Transtornos e quetais ou que tal se inteirar para contribuir positivamente?
Um transtorno é uma faca cravada no peito. Nalguns dias ela fica ali, quieta, não gera dor, quase. Noutros dias, o mesmo movimento realizado frequentemente, todos os benditos dias, causa dor. Essa dor, pode ser imensurável.
Para quem não tem transtorno nenhum, pode parecer ser frescura, ou pode ser nomeado de falta de vergonha na cara, ou de mimimi. Mas não é nada disso.
Estive a conversar (ontem) com uma pessoa, que para os mortais "normais", tem tudo: casa boa, alimentação, carrão, tudo pago. Tem acesso a Teatro, Cinema, livros... tem acesso às Artes. Pode simplesmente entrar na Loja e pegar a roupa que gostou. Pode pedir o que quiser comer, por telefone, no aplicativo, sem olhar o valor, no final dos pontinhos (no Menu). Mas tem transtornos.
Não consegue sair e ficar mais de duas horas, com outras pessoas, sem começar a sentir-se mal, ou sentir medo, ou sentir desconforto físico mesmo.
Está no Google pessoal. Todos temos acesso. Parem de julgar. Leiam, se eduquem, vão inteirar-se sobre o que realmente importa. Parem de ficar a ver novelas. Todos ali estão com salário no bolso já. Eles nem assistem novelas, sabiam? Eles vão para Teatros, vão para Yoga, vão para Terapia ou para Fernando de Noronha etc.
Peguem livros para ler ou ouçam um bom livro, se preferirem. Cuidem das plantas de sua casa. Não tem? Bom momento para aquisição de plantas. Eduquem vossos espíritos. Porque nenhum transtorno é mimimi. A pessoa sofre mesmo, muito.
O transtorno social por exemplo "trata-se da dificuldade que a pessoa tem para interagir socialmente. Se não for corretamente diagnosticada e tratada (essa dificuldade), pode impactar significativamente na vida do indivíduo.
Não é frescura, "a ansiedade social em níveis extremos, pode impactar negativamente a vida de um indivíduo, incapacitando-o de se relacionar, trabalhar ou estudar."
Jung em 1911 começou sua Prática Analítica. Naquela época, assinalou não usava o termo ansiedade, mas vislumbrou que "as amplificações arquetípicas em torno da ansiedade podem estar tanto associadas à personificações/representações do trickster ou da sombra (personificada em monstros) por indicarem perigo e ameaça" (2000, p.47). E Jung nomeou de “arquétipos de transformação” que são locais, ambientes e situações – por ex. caverna, floresta, abandono muito mais especificamente do pai – que apontam para igualmente a indeterminação e insegurança."
Conheci isso pessoalmente: na pele de uma pele que saiu de mim... Infelizmente não tive condição financeira de cuidar do assunto como devia, mais à fundo. E vamos combinar, que não é fácil ser mãe sozinha, sem a presença (efetivamente falando) paterna. Li um artigo muito rico, o título é "Solidão da mãe solo na criação dos filhos". Uma facada nas costas. Não é a mesma facada do ansioso, mas a da mulher que há de sentir culpa pelo resto da vida, por ter criado seu filho ou sua filha, sem a presença (de fato) "do pai da criança". E tudo piora, quando a filha, ou o filho "dão errado". Isso quer dizer: tem problemas emocionais agravados pela ausência da figura paterna.
Por que meti esse assunto no meio? Porque a pessoa que atendi ontem, é filha de mãe solo. E acabo por me arriscar a dizer que esse rombo no peito, essa faca no coração, permanentemente pendurada no coração, tem muito a ver com essa fala do Jung.
Ela confessou-me que escuta a canção de Zizi, "Caminhos de Sol", pensando no pai biológico. Ainda bem que teve um pai do coração, a partir dos 17 anos de idade (ela hoje tem 38...). Mas aí, o que a ausência do pai biológico podia estragar, conseguiu.
Na canção, que é romântica, na visão geral, para ela, é um diálogo que trava com o seu pai. E arrematou: "ele é o monstrinho que amo". Disse-lhe que iria ouvir a canção a lembrar-me dela. Confessei também, minha tietagem antiga com a Zizi.
è sim, tudo muito cinza...
Hoje noto um movimento, aind discreto, de jovens que sofreram problemas similares, educando melhor, as crianças, no quesito empatia. Ainda é um grupo pequeno, mas vamos todos e todas juntarmo-nos a esse movimento. Vamos educar nossos filhos e nossas filhas para a Empatia.
Mas me arrisco a ser otimista, na agoridade temos mais "ferramentas" disponíveis, a exemplo da Psicoterapia Holística, que está muito mais rica em possibilidades. Para além dos remédios, claro, porque a medicação é para ser usada, quando for necessário, sim, sim e sim. É um caminho que pode ser percorrido com o sol.
Pensado, sentido e escrito por Solineide Maria.
Luanda, 27 de Outubro de 2023.