OS DESAFIOS AMBIENTAIS DA AMAZÔNIA

 

Moacir José Sales Medrado[1]

 

Há muito tempo, testemunhamos a devastação de nossos biomas, juntamente com promessas vazias de recuperação e políticas públicas que frequentemente ficam apenas no papel, sem ação prática. Um exemplo disso é o Plano Nacional de Silvicultura com Espécies Nativas e Sistemas Agroflorestais (PENSAF), que parece ter sido deixado de lado.

 

Em vez de vermos uma efetiva restauração dos danos ambientais e a implementação de políticas de preservação, observamos a contínua exploração, muitas vezes inadequada, da Floresta Atlântica, do Cerrado, do Pampa, da Caatinga, da Amazônia e até mesmo do Pantanal.

 

No entanto, o brasileiro é conhecido por sua criatividade e habilidade de adaptação, e agora temos uma nova abordagem para enfrentar esse passivo ambiental.

 

O Novo Paradigma: A Responsabilidade da Amazônia

 

A ideia em discussão é usar a Amazônia como uma espécie de "fiadora" para compensar as promessas não cumpridas de restauração e preservação em outras regiões do Brasil e do mundo. Propõe-se manter o desmatamento zero na Amazônia e estabelecer uma reserva legal de 80% "ad eternum" para as propriedades rurais nessa região.

 

Isso pode parecer uma solução criativa, mas não é justo que a Amazônia seja a única responsável por compensar as degradações causadas em outras regiões ao longo da história.

 

Uma Contabilidade Ambiental Responsável

 

Em vez de uma abordagem unilateral, sugiro a criação de uma contabilidade ambiental que promova uma distribuição justa da responsabilidade entre todas as regiões do Brasil e do mundo. Essa contabilidade levaria em consideração não apenas a "fiadora" (Amazônia) mas também o "devedor" (outras regiões) e buscaria equilibrar a equação à medida que a cobertura vegetal dos biomas degradados seja recuperada.

 

Infelizmente, sabemos que questões políticas e interesses econômicos muitas vezes prevalecem sobre soluções equitativas. O exemplo do Código Florestal demonstra como alguns setores da sociedade têm "enzimatizado" o debate em direção a uma abordagem que permite o "desmatamento zero ad eternum" na Amazônia em troca de perdão indiscriminado para quem desmatou ilegalmente em outras regiões.

 

É preocupante ver alguns amazônidas entusiasmados com a ideia de comprometer eternamente sua região em troca de resolver o passivo ambiental criado por outros estados e regiões brasileiras ao longo da história. Devemos nos perguntar como nossos descendentes verão essa decisão no futuro.

 

Uma Moratória Responsável

 

Uma alternativa mais equilibrada seria estabelecer uma moratória na Amazônia, onde o desmatamento fosse suspenso e a reserva legal de 80% fosse aplicada, mas por um período determinado. Isso deveria ser acompanhado por investimentos significativos em levantamento e caracterização de produtos não madeireiros, pesquisa em manejo florestal sustentável, sistemas de produção agroecológicos e desenvolvimento de distritos florestais e agroflorestais.

 

Essas medidas visariam a valorização de produtos madeireiros e não madeireiros, o desenvolvimento de infraestrutura, o aproveitamento do potencial pesqueiro e a melhoria da qualidade de vida das comunidades locais.

 

Em última análise, a busca por um equilíbrio ambiental justo e sustentável deve ser o objetivo, em que todas as regiões, incluindo a Amazônia, desempenhem seu papel na preservação do nosso planeta.

 


[1] Engenheiro Agrônomo (UFCE), Doutor em Agricultura (ESALQ/USP), Especialista em Planejamento Agrícola (SUDAM/SEPLAN – Ministério da Agricultura), Pesquisador Sênior em Agrofloresta (Embrapa – aposentado), Diretor Geral da Medrado e Consultores Agroflorestais (MCA), moacir@mcagroflorestal.com.br