A luta pela vida
A luta principal de todos os seres pela preservação da vida é por comida. É preciso alimentar a si e a prole. É assim com os humanos e não humanos, na terra, na água e no ar.
E se a comida é pouca, a luta pode ser mortal. Fauna e flora saciados, o movimento flui de acordo com a natureza. Com os humanos é diferente. Não se satisfazem só com comida. Outros desejos se manifestam. Humanos usam a inteligência para alcançar outros objetivos, com métodos científicos e empíricos. Assim descobriu o fogo; inventou a roda; foi a lua; debelou doenças com a descoberta de medicamentos; inventou a internet; as redes sociais; os algoritmos e a inteligência artificial. Apesar dos avanços científicos e tecnológicos, ainda não conseguiu acabar com a fome. Não por causa de a comida ser pouca. A produção de alimento é farta. Então, por quê falta comida no estômago de milhões de humanos?
Voltemos a fauna. Não há calmaria, também, entre os não humanos. Para se manterem vivos, estão sempre atentos. O sapo precisa ficar esperto, para não ir pro estômago da cobra; o passarinho precisa escolher um lugar seguro, pra escapar da coruja; até o leão, rei da selva, não pode se distrair ao beber água, pois o jacaré pode levá-lo pro fundo do lago. As armas dos não humanos, na luta pela vida, são suas garras, seus dentes. Não matam para ver o tombo. As armas dos humanos são mísseis, metralhadoras, fuzis, granadas, porta-aviões, navios de guerra, bombas, drones , inteligência artificial e outras. Naturalmente, que tudo isso não é apenas por comida, certo?
Ora, ora, diria João Batista, fome de poder, de dominação, dinheiro! E você, tem fome de quê, pergunta João. Cada um terá uma resposta. Mas com certeza, sem comida não se vive. Água também, retruca Batista.
A essência do sistema capitalista é de acumulação e concentração de riqueza. Com o neoliberalismo, etapa do capitalismo extremo. chegamos a um patamar em que um pequeno percentual de humanos são donos de um grande percentual de bens materiais. Mas querem mais. Querem o controle da produção de alimentos. Já imaginaram a situação? Não fossem os pequenos produtores, a agricultura familiar, estaríamos no pau da goiabeira. Como o projeto é de concentração de riqueza, os pequenos produtores são alvos de ataques. É preciso eliminar concorrentes. Como assim, cara pálida? Ora, ora, repetiria João Batista, controlando a distribuição de grãos, as maravilhosas sementes. Isso está acontecendo. E a comida na mesa e nos estômagos vai se tornando de difícil acesso. É preciso garantir o lucro do agro é pop. O pobre, em tempos de escassez, inclusive de trabalho remunerado, fica dependente de programas sociais dos governos comprometidos com a inclusão. Nem todo governante governa pensando nos excluídos. Ao contrário. Espera aí, retruca João, para aumentar a produção e o lucro, precisa de mais terras e de água. Exatamente, João, uma coisa puxa a outra. Por lucro rápido, vale tudo: desmatamento, privatização, negociata com congressistas e demais entreguistas, alianças com milicianos, com o garimpo ilegal e o mais nefasto: assassinatos. E guerras. Um momento, interrompe João, não acha que perdemos o foco? Falávamos da fome! Pois é, extrapolamos, porque um assunto leva a outro, os humanos do alto da pirâmide não desejam controlar apenas a produção de alimentos. Querem controlar, inclusive, o pensamento. A comida, bem, quem puder, que compre, pois no sistema neoliberal, tudo é commodities , em outras palavras, mercadoria. Quer vender a sua alma, João?