Sofrimento

Acredito eu que esse mundo que conhecemos foi feito especificamente para nos fazer sofrer e de teimosos tentamos ser felizes.

O sofrimento, a dor, o choro, estão tão ligados ao inconsciente humano que seriamos incapazes de viver plenamente sem eles, os buscamos mesmo que conscientemente não queremos busca-los.

Criamos uma rede, uma trama, tão entrelaçada e fechada em si que não percebemos que essa só serve e serviu para nos aprisionar e aprisionar quem amamos.

O sofrimento vem justamente da inaceitabilidade dessa prisão, quando percebemos que aquilo não é o que queremos, quando queremos mais, além, alguém, a nós mesmos e não conseguimos alcançar.

Sofremos por não nos adaptar e só com o sofrimento podemos compreender o que nos machuca, o que nos governa, o que não queremos mais.

Há sofrimentos que buscamos, sentimos lá no fundo que não nos fará bem, mas continuamos até que realmente não faz e há sofrimentos que não pedimos, não conscientemente, vem do outro, vem do todo, mas tudo está dentro do mesmo enredo da vida e todos vêm com uma missão, por uma razão.

Só nos falta descobrir qual!

Queremos sofrer? Não. Precisamos sofrer? Sim.

Há um ditado que diz: O topo da montanha é incapaz de nos ensinar o que o fim do poço nos ensina.

Ninguém quer sofrer, chorar, sentir dor – seja da alma ou do corpo, mas já se perguntou quantas vezes sofreu nessa vida e por qual razão se deu cada sofrimento?

Melhor, está sofrendo ainda hoje? O que te faz sofrer?

O sair da zona de conforto, como dizem, só acontece quando ocorre o sofrimento, ninguém em sã consciência sai de sua zona de conforto enquanto ela lhe é confortável, é preciso aquele grão de areia nos incomodando, nos fazendo chorar e nos despedaçar por dentro para entendermos que aquele não é mais o caminho.

O que fazemos com tudo isso é que define se vamos sair desse ciclo ou permanecer no inferno em vida.

A ostra transforma aquele incomodo grão de areia em uma bela pérola, se fecha em si e trabalha incansavelmente para reverti-lo de uma camada de madrepérola e assim se proteger dos infortúnios daquele intruso ser.

Por vezes o grão de areia que incomoda a pequena ostra foi colocado lá propositalmente, pois é pública e notória sua capacidade de transformar algo ruim em grandioso.

Por vezes nós impingimos o sofrimento àqueles que mais amamos, por acreditarmos serem eles capazes de feitos grandiosos, justificamos nossos atos no futuro e somos incapazes de perceber o quão mal fazemos no presente.

Nossos seres amados, se forem como as ostras trabalharão em si e conseguirão se sobressair, a que custo? Não sei dizer, mas se não forem como ostras, perecerão, pois não saberão distinguir um incomodo ser com o todo da vida que leva e como o sapo que se adapta a temperatura da agua que o cerca, no momento em que perceber que está quente demais não terá forças para sair da panela.

O sofrimento é necessário, é através dele que percebemos que algo está errado e que é preciso mudar, crescemos com as adversidades da vida, ela não é um sonho ou um conto de fadas.

Ao sofrer, mental ou fisicamente, buscamos meios de nos proteger e de proteger quem amamos, só precisamos estar atentos para identificar de onde vem esses sofrimentos e o que podemos fazer para ao menos minimiza-los, se não for possível neutraliza-lo de imediato – Nada acontece do dia para noite.

Estamos sofrendo por algo que nós mesmos nos colocamos? Estamos sofrendo por algo que nos foi imposto? Estamos sofrendo por algo que existe realmente?

O sofrimento é pessoal, por mais que à primeira vista acreditemos não termos participação naquela situação sofremos nós e somos nós os únicos responsáveis por isso.

Podemos sofrer os piores malefícios que a vida consegue nos oferecer, isso é externo, mas sofrer pelos malefícios sofridos é interno, é pessoal, é único.

Coisas acontecem, coisas inimagináveis até, e essas coisas precisam acontecer – por mais que isso seja impensável, nascemos para isso, viver tudo o que a vida pode nos oferecer.

Precisamos sofrer, é um mundo de expiações, é isso que nos levará à evolução de nós mesmos.

Como reagimos ao que sofremos é o que nos causa sofrimento, nos adoece a mente, padece o corpo e apodrece a alma. Como reagimos ao sofrimento é o que nos dá força para dizer: NÃO, e com isso iniciar nosso caminho para fora dali, é o que nos fará produzir as mais belas pérolas de nosso ser, é o que nos fará saltar da panela antes que seja tarde demais.

Aprendendo o que nos faz sofrer e o porquê desse sofrimento compreendemos que somos nós que o impingimos a nós mesmos, e nessa compreensão podemos olhar para o lado e enxergar quanto sofrimento somos capazes de causar, somos algozes de nós e de quem importa para nós.

Precisamos sofrer para crescer, mas não precisamos sofrer ou fazer sofrer por isso.

Quando de fato nos conhecermos, saberemos diferenciar um sofrimento do outro e conseguiremos entender a razão de estarmos aqui.