ESTOU CANSANDO.. (*)

A vida pregou-me uma peça.

O tempo passou. Estou de pé, mas sem vida. Estou morto, mas em pé.

Parafraseando Millôr Fernandes – imaginei, e só imaginei.

Imaginei uma vida bela e cheia de “glamour”, mas sem dúvidas. Imaginei um amor, mas sem desamor. Imaginei uma relação plena, viçosa e cheia de bonança, mas sem temor. Imaginei uma vida sem medos e sem infernos, mas sem sobressaltos. Imaginei uma afeição familiar, mas sem desafeição incompreendida. Imaginei a existência de uma cumplicidade, mas sem a perversidade de ser um cúmplice. Imaginei a gratidão, mas com reciprocidade de agradecimento. Imaginei a generosidade, mas sem arrogância. Imaginei e acreditei na oração de São Francisco, “é dando que se recebe”, mas sem receber para dar. Imaginei o prazer, mas sem a dor. Imaginei uma vida, mas sem a morte.

Mas estou cansando. Cansando de imaginar e só imaginar. Até quando!?...

Sinto e vejo que cobram tudo o que faço e onde faço. Cobram, em devaneios, como faço, mas não imaginam nem querem sentir o que “sentem os meus sentimentos”. Não querem saber. E daí. Tento fazer o que gostam e querem, mas não fazem o que quero, gosto e sinto.

A marginalidade do amor é o desamor. É a indiferença. É o olhar fúnebre e funesto da ingratidão.

Transformam gestos de ensaio de uma felicidade em um hediondo crime de querer momentos de alquimia de uma imaginada alegria em forma de um frustrante desejo.

Repetidamente lembro, repito e medito sobre o que o filósofo já dizia: “passam pela clareira do bosque e só vêem a lenha podre para a fogueira”.

Por isto repilo a indiferença. Repilo a ingratidão. Repilo a interferência em ações e sentimentos alheios a pretexto de um pseudo-amor sem cumplicidade. Repilo a cobrança sem o conhecimento e a causa.

Abomino o desconhecimento sem o desejo de querer conhecer. Abomino o falso querer bem. Abomino a cobrança da pseudoverdade.

Sugiro voltar e passar várias vezes pelo bosque para poder enxergar a beleza das flores, os ramos e as folhas frondosas das árvores para sombras, a serenidade e alvura das águas que correm entre as plantas e para a vida, o cantar dos pássaros que dá alegria ao ambiente, a leveza do ar puro que exala e o frescor da natureza.

Só assim haverá razão para continuar a viver.

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(*) O autor é bacharel em Letras, formado pela UNIPAC - Universidade Presidente Antônio Carlos.

E-mail: edsong@uai.com.br