Parafraseando GRACILIANO RAMOS, não me privarei de falar sobre um assunto tão importante. No livro do famoso autor, a temática da obra se classifica entre o conto e o romance e fala do drama do retirante diante da seca implacável e da extrema pobreza reinante no nordeste brasileiro. Graciliano escreveu VIDAS SECAS, um marco na literatura brasileira, muitas decádas atrás, porém eu, numa escala bem menor, descreverei as agruras de uma simples caminhada numa "alameda" em São Caetano do Sul, a qual chamei de "MERDAS SECAS".
Decidimos fazer uma caminhada após assistir a Bússola de Ouro, a primeira de uma trilogia ao estilo Nárnia ou Senhor dos Anéis. Começamos bem, com pouco sol, uma temperatura agradabilíssima, e muitas árvores no caminho. Logo no começo, Alícia, uma de minhas filhas, decidiu subir numa árvore. Até aí tudo bem. O problema foi descer dela. Como num campo minado, podia-se ver técos, pedaços ou até mesmo centimétricos troços de fezes. Como linguiças descartadas de um almoço de confraternização de fim de ano, as formas roliças mal cheirosas espalham-se por todo o caminho.
Desviamos de uma, mas outra está logo ali para denunciar um fato inexóravel: o brasileiro é de uma falta de educação que beira a insanidade. Vimos várias pessoas desfilando com seus amigos caninos, porém nenhum deles com um saquinho na mão para carregar o resultado do metabolismo canino, que geralmente é deixado lá mesmo, sem nenhum cuidado. Era merda para todo lado!!!! No passeio, ao lado das árvores (agora entendo porque elas são tão frondosas, com tanto adubo diferente!!), até mesmo ao lado dos poucos bancos que nos aguardam para um merecido descanso após tamanha jornada.
Em países civilizados, os donos dos "pituchos" carregam as fezes dos lindinhos até um lugar adequado. No Brasil, das verdades invertidas, quem carrega o excremento alheio somos nós que não temos amigos de tal monta. Isso mesmo, de cada pisoteada nessas massas mal cheirosas, uma parte é levada para nossos lares e assim contribuir para o "espalha merda" que é nosso país. Somos as abelhas do reino humano, que ao invés de carregar poléns, carregamos MERDA.
Será que é tão difícil contribuir com a limpeza pública e fazer algo mais civilizado? Acho que as prefeituras deviam instalar cagatórios para animais. No caso de minha cidade os animais usam calças e celulares. Hoje minha comadre disse que comprou panetone para o cachorro dela. São vendidos somente em PetShops. A marca tinha tudo a ver: Panetone Cãoducco!!!
O pior é quando a chuva tarda em vir e as massas fedorentas secam e se espalham por toda parte. O odor se confunde com o perfume das flores que embelezam a caminhada. MERDAS SECAS por todo o caminho!!!!
Depois de muito tempo entendi porque os franceses falam merda o tempo todo, contam inclusive que dizer merda para alguém é desejo de sorte. Se tem um país que tem mais cachorro que gente é a França. Portanto você pode ligar os fios e entender o porquê de tanta merda no país do vinho e do queijo. É merda prá cachorro!!!!
Após quase uma hora desviando e catalogando mentalmente as formas, cores e odores dos excrementos anônimos chegamos em casa e uma surpresa nos aguardava: nossa gatinha de quase 15 anos de idade nos surpreendeu com três pequenos trocinhos de cocô, felino neste caso. Porém desta vez não pude dizer nada, afinal esquecemos a pobrezinha presa num dos quartos e quando a vontade vem não há como deixar de fazê-lo. Ela é tão fina, educada e ARISTOGÁTICA que o nome dela é Francesca (se diz Frantchesca) e sempre faz seu cocozinho numa bacia do lado de fora de casa. Pois é, minha gatinha velha é mais educada que muita gatinha nova que usa Dolce & Gabbana e desfila com seus pets peludos e cagões.
Desculpem-me por ter falado tanta merda, mas não resistí a tanta falta de educação de nossos vizinhos humanos.