Sentada na varanda
Me recolho, sentada na varanda. Busco interiormente cada sensação e sentimento encaixotados pelo tempo. Cada pessoa que passa na rua, cada som ouvido é um gatilho para ativar a minha introspecção.
A casa de minha mãe, normalmente, já me é nostálgica. Com os olhos fechados, consigo ouvir os gritos dos sobrinhos na algazarra do encontro. A presença das crianças no início das férias escolares enchia o ambiente com uma vida fresca pela idade. Correria pela sala e quartos e as broncas das mães que nunca eram ouvidas.
Cheiros de boas comidas concorriam com o aroma vindo do jardim, numa mistura com sabor de casa de nona. À mesa, cada mãe procurava alimentar os filhos que teimavam ganhar a liberdade para brincar na rua ou no largo da praça.
Meus ouvidos ainda escutam as conversas das irmãs e das primas sentadas na calçada à noite, os risos, as gargalhadas com as mesmas histórias repetidas a cada ano. Zoeiras conhecidas em detalhes, mas a cada encontro era revivida com a mesma intensidade e prazer de anos.ĺ
A alegria da italiana pela vinda dos filhos era indefinível, supria a casa com os doces e guloseimas preferidos por eles e pelos netos. A criançada ia e vinha da rua com picolés, batendo o portão para o tormento dos pais. Hoje, os netos já adultos, entram pelo portão trazendo não mais o frescor dos picolés, mas as intempéries da vida, carregando pesos e alegrias da própria caminhada.
A querida Nona, já não está no portão esperando para nos ver virar a esquina. Já não vemos o seu sorriso amoroso nos olhos desejando-nos o bom dia. Silenciosamente, na cadeira de rodas, espera pelo cumprimento de rostos queridos que se tornaram estranhos para ela.
As pessoas que hoje descem e sobem a rua ficaram desconhecidas da minha memória pelo tempo e a distância física. Então, fecho os olhos e procuro por aqueles que me foram caros e conviveram comigo num passado de algumas décadas. Ouço as vozes e o barulho peculiar do meu tempo nesta cidade, nesta rua. Vivo sentimentos adormecidos.
Sentada nesta varanda, me aconchego para sentir o afago das mãos de minha mãe, pela bênção dada na hora da partida. Como era difícil deixar esta casa e o afeto da família.
A vida me levou para fora daqui, me proporcionou conquistas diversas, novos afetos, novos amigos e novas relações de trabalho. Sou uma estrangeira em terras distantes, sou filha adotiva em outra paragem.
Recolhida nesta varanda sinto aflorar nas veias a circulação do sangue da nossa Porangaba e da nossa gente que nunca foram esquecidas. Um misto de saudade me induz à urgência de registrar esses momentos e poder revisitar a trajetória da minha vida.
Me recolho, sentada na varanda. Busco interiormente cada sensação e sentimento encaixotados pelo tempo. Cada pessoa que passa na rua, cada som ouvido é um gatilho para ativar a minha introspecção.
A casa de minha mãe, normalmente, já me é nostálgica. Com os olhos fechados, consigo ouvir os gritos dos sobrinhos na algazarra do encontro. A presença das crianças no início das férias escolares enchia o ambiente com uma vida fresca pela idade. Correria pela sala e quartos e as broncas das mães que nunca eram ouvidas.
Cheiros de boas comidas concorriam com o aroma vindo do jardim, numa mistura com sabor de casa de nona. À mesa, cada mãe procurava alimentar os filhos que teimavam ganhar a liberdade para brincar na rua ou no largo da praça.
Meus ouvidos ainda escutam as conversas das irmãs e das primas sentadas na calçada à noite, os risos, as gargalhadas com as mesmas histórias repetidas a cada ano. Zoeiras conhecidas em detalhes, mas a cada encontro era revivida com a mesma intensidade e prazer de anos.ĺ
A alegria da italiana pela vinda dos filhos era indefinível, supria a casa com os doces e guloseimas preferidos por eles e pelos netos. A criançada ia e vinha da rua com picolés, batendo o portão para o tormento dos pais. Hoje, os netos já adultos, entram pelo portão trazendo não mais o frescor dos picolés, mas as intempéries da vida, carregando pesos e alegrias da própria caminhada.
A querida Nona, já não está no portão esperando para nos ver virar a esquina. Já não vemos o seu sorriso amoroso nos olhos desejando-nos o bom dia. Silenciosamente, na cadeira de rodas, espera pelo cumprimento de rostos queridos que se tornaram estranhos para ela.
As pessoas que hoje descem e sobem a rua ficaram desconhecidas da minha memória pelo tempo e a distância física. Então, fecho os olhos e procuro por aqueles que me foram caros e conviveram comigo num passado de algumas décadas. Ouço as vozes e o barulho peculiar do meu tempo nesta cidade, nesta rua. Vivo sentimentos adormecidos.
Sentada nesta varanda, me aconchego para sentir o afago das mãos de minha mãe, pela bênção dada na hora da partida. Como era difícil deixar esta casa e o afeto da família.
A vida me levou para fora daqui, me proporcionou conquistas diversas, novos afetos, novos amigos e novas relações de trabalho. Sou uma estrangeira em terras distantes, sou filha adotiva em outra paragem.
Recolhida nesta varanda sinto aflorar nas veias a circulação do sangue da nossa Porangaba e da nossa gente que nunca foram esquecidas. Um misto de saudade me induz à urgência de registrar esses momentos e poder revisitar a trajetória da minha vida.