CENSURA AO PATO
O Facebook costuma apresentar boas sugestões de vídeos musicais. Tem de todos os estilos e para todos os gostos.
Como recentemente foi o Dia das Crianças, apareceu um vídeo com várias músicas do cantor e compositor Toquinho, entre as quais a belíssima O Caderno e a irreverente A Casa (Era uma casa/Muito engraçada...), escrita por Toquinho e pelo poeta Vinícius de Moraes.
Mas tem uma música que o cantor interpretou que hoje seria massacrada pelos politicamente corretos de plantão: O Pato.
Acompanhem a letra:
"O pato pateta/Pintou o caneco/Surrou a galinha/Bateu no marreco."
Pra começar, chamar alguém de pateta é bullying. E surrar e bater é violência física. Lei Maria da Penha no galinheiro!
Também se condena a cantiga de roda Atirei um pau no gato. Ora, eu brincava de atirei um pau no gato quando criança e nem por isso agredi os felinos; muito pelo contrário, amo gatos, tanto que tenho seis e mais uns a caminho.
Hoje tudo tem que ser politicamente correto, para não ofender ninguém. Tudo bem que as crianças devem ser educadas para tratar bem os semelhantes e respeitar os mais velhos e os animais. Mas parece que com tanta vigilância, tanta necessidade de ser politicamente correto, perdeu se um pouco da graça pelo caminho.
Eu fui criança de ouvir a música citada, além das histórias da Coleção Disquinho, que eu acompahava no programa Era uma vez, da Rádio Universidade AM de Santa Maria. Hoje essas historinhas também seriam censuradas e massacradas pelo que continham de politicamente incorretas. O lobo mau, com apetite para comer a avó e a netinha seria condenado por sexo com idosos e pedofilia! A historinha dos Músicos de Brenem (Os quatro heróis na Coleção Disquinho), com o refrão "O cão em cima do burro/O gato em cima do cão/O galo em cima do gato/Cantando a sua canção" seria considerado suruba animal.
Parece piada, mas não é. Com tanta necessidade de ser politicamente correto, as canções e histórias infantis perderam muito de sua graça.
O mesmo acontece com a literatura adulta, diante da necessidade de revisar clássicos como Monteiro Lobato, Machado de Assis E o vento levou para tirar dos livros palavras consideradas racistas ou ofensivas a alguma minoria. Já abordei esse assunto em outro texto e algumas pessoas concordaram com minha opinião. Bom saber que não estou sozinho nessa senda contra a tendência à revisão.
Concordo que racismo é crime, que os grupos e minorias devem ser respeitados e valorizados diante de suas opções.
Mas revisar clássicos musicais e literários é uma espécie de censura à arte, justamente por que essas músicas e esses livros já se tornaram praticamente de domínio publico. E censura a qualquer tipo de arte é coisa que nossa evolução não deveria aceitar.