Babel - BVIW
Não está sendo fácil ter fé na vida, fé no homem, muito menos fé no que virá, como queria Gonzaguinha. Diz a filosofia que o mundo sempre foi um caos. O problema está em vivenciar o caos em várias esferas da existência ao mesmo tempo. Não bastasse a singularidade estar cada vez mais próxima, ameaçando-nos com o advento de uma inteligência que ultrapassará a humana com consequências imponderáveis; os microplásticos contaminando as mais remotas regiões do planeta; as mudanças climáticas nos advertindo que estamos passando dos limites na forma como consumimos; a incalculável quantidade de rejeitos de roupas no deserto do Atacama, que pode ser vista do espaço, nossos olhos agora se voltam para mais uma guerra sangrenta e desigual no Oriente Médio. Às vezes penso que vivemos por pura força dos órgãos internos, que continuam seu trabalho incansável e ininterrupto. Porque a alma já não está conseguindo sobreviver à tantas vicissitudes, sem entristecer profundamente.
Mas os dias vêm, exigindo a nossa presença integral neles. Então, eu faço minhas preces. Cultivo um jardim. Cozinho minhas refeições vegetarianas e separo meu lixo. Alguns poucos gestos de cuidado para com esse planeta que me acolhe e me dá tanto. Sorrio para os transeuntes anônimos, porque é um carinho gratuito e necessário __ vai saber a cruz que cada pessoa está carregando por esses dias. Não é muito. Mas quero crer que são os pequenos gestos, as mudanças mínimas e aparentemente sem nenhum impacto, que são capazes, em algum momento, de transformar esse nosso quase inferno num quase paraíso.