Ratos e percevejos em Paris.
Chegou-me uma notícia, antes de outra notícia, ambas de Paris, a segunda a encorpar a primeira, ambas a mancharem a reputação universal da Cidade Luz, cidade do romantismo e do Quasímodo. A primeira notícia deu-me a saber que está Paris infestada de ratos, de ratos e de ratazanas, é certo, e de camundongos igualmente, concluo, certo de que os parisienses não fazem distinção entre estas e aquelas espécies de criaturas roedoras que, dentre as criaturas que Noé pôs na arca, são as mais queridas dos humanos. Talvez sejam milhões as capivaras de Paris. Capivaras em Paris?! E por que não, se na Amazônia há girafas?!
A história não se encerra com a primeira notícia, sabe o leitor, pois falei de duas notícias, e não apenas de uma. Se infetasse Paris apenas e unicamente ratos e seus parentes mais próximos não tinham os franceses com o que se preocupar. E poderiam os cineastas contratar as roedoras criaturas, que figurariam nas animações Ratatouille 2, e Ratatouille 3, e 4, e 5... e ao infinito, e além. O sucesso de tais animações, garantido. E o lucro, líquido e certo. O primeiro Ratatouille foi um sucesso, e o seu sucesso permite-nos antever o das sequências - e que sejam estas inúmeras. E são tantos os ratos, que se pede um poema cujos versos mais famosos hão de ser "no meio do caminho há um rato, há um rato no meu do caminho". Mas Paris, dizia eu, e ia-me esquecendo, também está infestada de percevejos - é o que informa a segunda das duas notícias que recebi. Se criaram os produtores de animações franceses, a prepararem os parisienses para acolherem em seu seio os ratos, o Ratatouille, talvez eles criem o Percevejouille, e que o façam bem feito, emprestando-lhe o espírito o mais simpático e cativante e amável. Mas, cá entre nós: deviam ter produzido tal animação há uns dez, cinco anos; se fossem previdentes, hoje os parisienses conviveriam pacificamente com tais criaturazinhas.