Os anos 80 não foram uma década qualquer. Eles foram um outro mundo. Aos jovens digo: vocês não imaginam como foram esses anos. Nostalgia, talento, ícones, moda, explosão do rock nacional, Michael Jackson cantando thriller, Madonna cantando like a virgin, Lady Di a princesa do mundo, Cazuza, fim da ditadura militar, queda do muro de Berlim e infelizmente a AIDS. Bom, nada é perfeito. Época de grandes e reais amores, verdadeiras amizades, festinhas na garagem onde dançavamos agarradinhos e depois voltávamos para casa andando falando e rindo de todo mundo em completa segurança. Um tempo mais divertido, gentil, mais caloroso, que nos emocionavamos quando conseguiamos roubar um beijo.
Uma galera mágica, cheia de vida, que se reunia na calçada a noite para conversar e contar muitas histórias. Ok, algumas a gente exagerava para impressionar quem queríamos conquistar. Sou um privilegiado pois vivi essa década no auge da minha juventude. Fico emocionado apenas escrevendo.
Naqueles anos, ser gay era viver uma vida dupla e nosso mundo era em guetos. Não existia casamento gay, parada gay e a homofobia não era crime. Tudo era proibido e nosso maior prazer era quebrar todas as regras. Fazíamos tudo que era proibido, enfrentávamos tudo na coragem e na raça e um protegia o outro nascendo assim amizades que se transformaram em amigos irmãos. Como não podíamos sair do armário, não tínhamos espaço para vitimismo.
Hoje quando olho para trás, sinto uma saudade imensa de tudo que vivi, de pessoas que passaram pela minha vida e algumas já nem estão mais entre nós. A falta de apoio do estado tornou-nos marginais do mundo. Nada nunca nos impediu de sermos o que queríamos ser. Sou um sobrevivente de uma marginalidade onde me joguei pleno e intensamente.
Na verdade, éramos felizes e sabíamos.