E O FUTEBOL EVOLUIU!

Na juventude apreciava assistir a uma peleja do meu time, o alvinegro de General Severiano, enfrentava transporte público lotado, fila grande para comprar ingresso, fila do tipo imprensada para entrar no estádio, calor absurdo das arquibancadas, em outra situação chuva intensa, além de sofrer e como, quando o time não ia bem das pernas.

A ida aos diversos alçapões do subúrbio exigia vestir a camisa do time e carregar aquela bandeira gigante, montada em vara de encaixe, que montada ficava muito alta.

Na volta, invariavelmente cansado depois de tanto tempo despendido, claro que além dos noventa minutos regulamentares, a voz prejudicada, depois de tanta cantoria durante a peleja, mas por incrível que pareça, todo esse esforço valia a pena. E como valia!

Naquele tempo, camisa de clube carregava apenas dois adereços: um grande para facilitar a vida dos espectadores e também dos locutores esportivos, o número do jogador que invariavelmente indicava onde atuava, e outro pequenino costurado na altura do coração, o escudo do clube.

Que saudade daqueles uniformes genuínos, sem essa parafernália, que hoje emporcalha com propaganda cada centímetro quadrado da indumentária, não poupando meiões ou calções. Camisas, estas então, têm adesivos no plural mesmo, na frente, atrás e também nas mangas.

Isso parece papo de saudosista, e é mesmo, mas não se restringe apenas a propaganda, essa saudade a que me refiro, ela está calcada na técnica, esta mesma que boa parte dos milionários clubes europeus esbanjam em seus plantéis internacionalizado, onde alguns clubes muitas vezes sequer dispõem de um único atleta local.

Como já lembrava Caetano “Da força da grana que ergue e destrói coisas belas”, hoje futebol brasileiro perdeu fidelidade, cada vez fica menor a probabilidade de renovação do plantel de atletas nacionais. Agora, mal um adolescente se diferencia dos demais, a notícia logo chega ao centro do futebol mundial, em alguns casos, o atleta nem tem tempo e prazer de atuar pelo time que o projetou, ainda nas divisões de base, ele assina contrato com um gigante clube europeu.

Para os menos talentosos, resta atuar por alguma agremiação da periferia do Velho Mundo, ou mesmo se aventurar por clubes de outros continentes, que por incrível que pareça, oferecem vantagens financeiras, bem superiores à realidade vigente no país.

Mesmo assim, o pouco de renovação do futebol brasileiro, hoje tem raízes sul-americanas, sem distinção de país. Claro, que os mais criativos destas nações acabam tendo o mesmo destino dos brasileiros, restando-nos apenas aqueles atletas, que não conseguiram emplacar seu talento no milionário futebol do Velho Mundo.

Parece que agora, tradições foram mesmo parar no lixo, pois clubes históricos perderam de vez sua identidade, se transformando em empresas internacionais. Ainda é cedo para uma visão crítica do que resultará dessa nova experiência esportiva.

Uma novidade no futebol brasileiro, que soa como requentada, vem a ser o repatriamento de atletas em final de carreira, ou seja, estamos criando uma nova categoria na estrutura dos clubes nacionais mais abonados, a estranha revelhação de atletas, todos com mais de trinta anos e salários ainda estratosféricos para a realidade nacional.

Outra estratégia recentemente criada pelo milionário acionista majoritário do Botafogo e também de mais três cubes europeus: um belga, um inglês e um francês. Trata-se de transacionar jogadores entre clubes de sua propriedade e também buscar em outros continentes, jogadores em final de contrato com suas agremiações, e assim se livrar dos altos valores que envolvem as transferências entre clubes.

Em poucas palavras, sintetizo a realidade atual do futebol brasileiro, mas fica ainda difícil definir se efetivamente passamos por uma evolução.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 23/10/2023
Código do texto: T7915072
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