CORINGA
CORINGA
Na rua em que eu morava já existia o cartão de crédito que era representado por um caderninho. Feita a compra, o vendedor puxava o lápis preso atrás da orelha e anotava o valor. O vencimento da fatura era sempre acordado entre as partes, visto o dia do recebimento do salário do comprador. Na falta de pagamento da fatura o vendedor cobrava o devedor e dependendo do caso dava-lhe dias a mais para pagar ou aceitava parte do pagamento. Caso houvesse calote cortava--lhe o fornecimento e se fosse um caloteiro contumaz acionava o “coringa”. Creio que a maioria que me lê, não tem a mínima idéia do que se trata. Coringa era o terror dos caloteiros. Funcionava assim: era uma empresa que contratava pessoas para ficar postadas na porta da casa do devedor, armada de megafone, tambores e instrumentos de sopro fazendo barulho e chamando atenção, trajavam roupas parecidas com fantasias similares aos coringa dos baralhos e não arredavam pé do local até que a dívida fosse quitada. Todos fugiam do coringa como o diabo da cruz pois a partir daquele instante, além da profunda vergonha sabiam que não mais teriam crédito na praça. Mesmo não havendo internet aquela manifestação espalhava-se como rastro de pólvora, através das conversas que eram a tônica diária. Habitualmente os atingidos, quando não pagavam os débitos, o que era raro, sumiam e procuravam guarida em local distante, mas o risco de serem localizados era sempre muito grande.
Nos dias de hoje, se existissem “coringas”, teriam grande procura e quem sabe, sucesso.