Conversas alinhavadas com um ex-alfaiate
Relata o aposentado alfaiate Raul Ortiz que essa profissão será extinta da face da Terra tal qual os dinossauros. - “Não ficará um para contar a história nem para tirar o molde”.
Reclamou que as calças ‘dins’ invadiram o mercado de uma maneira violenta e sem matar ninguém. E corrigiu: “Ninguém? Matou os poucos profissionais que ainda teimavam. Quem hoje quer ser alfaiate? É bem provável que perguntem: - O que é alfaiate? Se indagarem aos nossos jovens o que é uma calça social vão dizer que é uma calça ‘dins’ de alto valor... Que tesourada!”.
E, como se estivesse com uma agulha na mão, questiona porque estão usando tanto a bermuda nos dias de hoje. “No meu tempo homem não usava bermuda. Nem para dormir”.
Saudosista, citou um dos seus últimos trabalhos: - “Foi um terno verde musgo para o cidadão ir ao casamento da filha na capital do Estado. Levei dez dias para confeccionar trabalhando duas, três horas à noite. Cobrei o equivalente a um salário mínimo. Era chefe da Receita Federal em nossa cidade. Cidadão de respeito”.
Recentemente, para espanto de quem o conhece, ele foi visto nas ruas com uma tesoura à mão. Alguém alertou o Conselho Municipal de Segurança que essa tesoura, segundo o próprio, seria para ferir duas pessoas: um tal de Roberto ‘Malinho’ que o difamou na televisão, e Juscelino/cheque frio.
Aposentadoria também é sinônimo de cobrança.