SEMPRE HÁ UMA EXPLICAÇÃO
No sacolejo da carroça as melancias vão se ajeitando. Esta me parece ser uma verdadeira lição de vida. Um ensinamento que a sabedoria popular assimilou rapidamente e o tem transmitido com forma diversa, mas conteúdo único. Leva-nos a compreender melhor a teoria do não há mal que sempre dure e nem bem que nunca se acabe. Ou seja, vá tocando o barco até que bons ventos o levem a um porto seguro. Nem que para isso você tenha que se apoiar no clássico “piano, piano, se vá lontano” que o carioca Jorge Bem aplicou em uma de suas composições e em sua vida –“Devagar se vai ao longe. Devagar eu chego lá”. Nessa caminhada não se fez de rogado e até alterou o nome. Hoje ele é o Jorge Ben Jor.
A vida é assim. Sempre haverá a solucionática para sua problemática, como nos explicava o Dadá Maravilha, aquele goleador que se comparava a um beija-flor quando aparentemente “parava” no ar para aplicar suas cabeçadas certeiras contra o gol adversário.
Comigo não tem sido diferente. Faço do quadrado um círculo ao aparar as arestas. Assim consigo fazê-lo rolar mais facilmente nesta minha caminhada. Lembro-me que o racional acompanha o espiritual nessa análise da questão: a dificuldade nos inspira a criatividade e Deus nos dá o frio conforme o cobertor.
Hoje vivi mais uma experiência ratificadora dessa minha teoria. Uma das minhas filhas chamou-me a atenção pelas minhas longas conversas ao telefone. Sempre intermeio meus diálogos com vírgulas, dois pontos, ponto-e-vírgula, exclamação, jogo aqui e ali uma interrogação para dar uma reavivada na conversa e reluto em colocar ponto final.
Justifico minhas longas conversas seja ao telefone ou na explicação à atendente do meu plano de saúde ou ao motorista do Uber. Faço deles o interlocutor que não tenho na solidão do meu apartamento ou de minhas caminhadas. Como felizmente ainda não fui acometido da prática do solilóquio aproveito a presença da vizinha na hora de repartir o varal para estender as roupas ou o interesse da mocinha do guichê da Rodoviária em saber como é a cidade para onde pretendo ir.
Acrescento ainda duas excelentes consequências das minhas conversas, longas, porém não verborrágicas: permitem-me o exercício da dialética (que mantém nossa capacidade mental para contrapor e argumentar) e têm indiscutível efeito fisioterápico, estimulando a musculatura que controla nosso maxilar.
Converse! Converse bastante!
Falará menos impropriedades e tardará a babar na gravata.