Há momentos na vida difíceis de serem enfrentados. Principalmente quando se trata do fim da vida.
Quando casamos, meu marido comprou um apartamento em frente do apartamento de sua mãe. Como ele havia sempre morado com ela desde que o pai morreu, achei justo que ela ficasse perto dele. É uma longa historia,sofrida, com muitos detalhes que não vou dizer aqui.
Durante todo tempo que ela viveu, eu sempre a coloquei em um lugar especial em nossa vida. Se saíamos, eu a deixava sempre ir na frente do carro, ao lado do meu marido - sempre quis que ela se sentisse especial.
Ela me ensinou a cozinhar algumas comidas italianas, a fazer compras, ríamos muito juntas e tínhamos um especial humor entre nos duas. Tivemos nossos problemas também mas os resolvemos com o tempo, com amor e carinho.
Quando minha mãe ficou doente, ela me ajudou muito. Quando eu ia para o Brasil, na impossibilidade de ficar na casa de minha mãe pelo seu estado, ficava em sua casa e ela sempre me fazia tudo de especial, do modo que eu gostava, tudo melhor era meu. A melhor cama, as colchas quentinhas, todas emendadinhas, o cobertor melhor, o travesseiro fofinho de penas. Na hora de dormir um cházinho de erva-cidreira. Tudo com tanto carinho!
Que saudade da carne de panela, do doce de abóbora, do pãozinho quentinho na hora do café, da fava com linguiça, do xuxu refogadinho, do cafézinho da tarde, das historias de família do passado, das aventuras de seus filhos quando pequenos, de seus planos, de suas amigas. Sua casa sempre cabia mais um, aquelas mesas emendadas, onde ela colocava várias toalhas e colocava o almoço de natal e sentávamos todos espremidos, rindo, passando os pratos. Sua risada, sua alegria, sua proteção com a gente. E ao mesmo tempo, sua fragilidade. Por fora, uma mulher forte guerreira. Mas por dentro, eu sei que ela era frágil e por isso eu a cobria de carinho.
Penso hoje quantas pessoas ela ajudou, fazendo seus paninhos de prato para a Igreja, comprando cobertores para quem tinha frio, ajudando as crianças excepcionais - sua casa estava sempre aberta para ajudar quem quer que fosse. Sempre havia uma mesa posta, uma toalhinha de ponto cruz, um cafézinho, um bolinho saindo do forno.
Hoje senti uma vontade muito grande de abraçá-la e dizer o quanto ela foi importante na minha vida. Mas eu disse muitas vezes, em vida, que eu a amava muito. E ela me olhava e dizia: "Voce é a filha que não tive".
E sempre me lembro do maior presente que ela me deu em vida: o seu filho!