O DIA, OU MELHOR, A NOITE EM QUE PASSEI AO LADO DE UM CEMITÉRIO
O título pode até assustar a alguém, mas como eu nada sabia naquela ocasião, não tive medo algum, além de um frio muito forte no meu corpo, apesar do ar abafado que havia naquele lugar. Explico o fato sem subterfúgios. O motorista do ônibus em que eu viajava parou o veículo, aproximadamente às três horas da madrugada numa estrada deserta e falou assim:
- Qual o passageiro que pediu para descer no povoado de Patos?
- Eu - respondi - tentando pegar no sono.
- Pois é aqui. Só com a luz da lua você segue esta estradinha de terra que você vai chegar bem no centro deste lugar.
- Estranho isso - resmunguei - em seguida peguei minha mala, ainda bem que não era pesada e segui o que me foi determinado.
Apesar de ser de madrugada, como no Piauí o calor abafado permanece até nestas horas, segui lentamente o caminho ordenado por aquele motorista do ônibus. O silêncio era um tanto assustador. Só dava para ouvir o barulho dos meus passos na terra. De repente, só me lembro que um frio me envolveu que os poucos cabelos do meu corpo ficaram eriçados. Como não soubesse o motivo, não dei atenção a isto. Continuei andando e logo avistei as casas do lugar. Tentei me aproximar de uma onde morava a minha irmã, mas alguns cachorros me fizeram uma ruidosa recepção, assustando-me e saindo do local. Aguardei o dia amanhecer subindo na carroceria de um caminhão e até que consegui cochilar um pouco. Já com o dia claro, tentei me aproximar da casa dos meus familiares e alguém apareceu à porta já ralhando com os cachorros que continuavam na missão de não me deixava chegar perto. Depois de tudo resolvido, enquanto tomava um café simples, expliquei a minha aventura na madrugada. E foi nesta hora que consegui entender o motivo daquele frio repentino no meu corpo quando passava por aquela estrada deserta. A minha irmã falou:
- Enquanto você passava por ali não chegou a ouvir nenhuma voz ou gemido?
- Não, minha irmã, era só o silêncio e frio no meu corpo muito grande.
- Então o seu Anjo da Guarda é muito forte. Pois você passou ao lado do CEMITÉRIO daqui.
- Agora dá pra entender um pouco o motivo dos arrepios passageiros no meu corpo.
- Quem sabe era alguma alma precisando de reza, meu irmão!