40 ANOS NO DESERTO

De acordo com a Bíblia, Moisés, que fora criado como príncipe pela filha do faraó, demorou 40 anos para cruzar o deserto com o povo hebreu tirado do cativeiro no Egito por uma série de razões.

• Para punir os israelitas por sua incredulidade e rebelião: Deus ficou descontente com os israelitas por terem murmurado contra Ele e contra Moisés, e por terem se envolvido em idolatria. Ele decidiu que todos os que haviam saído do Egito, com exceção de Josué e Calebe, deveriam morrer no deserto antes de entrar na Terra Prometida.

• Para preparar os israelitas para a vida na Terra Prometida: No deserto, os israelitas aprenderam a confiar em Deus e a seguir seus mandamentos. Eles também desenvolveram uma identidade nacional e um senso de unidade.

• Para demonstrar o poder de Deus: Deus proveu aos israelitas alimento, água e proteção no deserto, mesmo em condições adversas. Isso mostrou aos israelitas que Deus era poderoso e que eles podiam confiar nele.

A explicação bíblica para a demora de 40 anos é que foi um período de julgamento e purificação para os israelitas. Eles precisavam aprender a confiar em Deus e a seguir seus mandamentos antes de poderem entrar na Terra Prometida.

Independentemente de você e eu acreditarmos na veracidade do texto bíblico, a permanência prolongada de Moisés e dos hebreus no deserto do sinai pode nos levar a algumas reflexões. Quantas vezes em nossa vida nos sentimos perdidos em um imenso deserto de sentimentos?

Por vezes nosso ambiente profissional e até mesmo o lar se transformam em ambientes hostis, tóxicos, e porque a convivência é uma difícil arte, aos poucos vamos restringindo nossas interações sociais ao estritamente necessário, passando a viver em clima de desolação e solidão profunda.

No deserto interior que criamos, passamos a experimentar longos períodos de aridez produtiva, tanto física quanto intelectual e afetiva, envolvendo morbidamente nossa mente em pensamentos infelizes e não raro, depreciativos.

Muitas vezes, sem saber como escapar desta situação lastimável, o espírito humano, sedento e faminto por horas felizes, se compraz por alguns momentos nas miragens criadas por sua própria mente, caindo, no entanto, novamente em um estado de prostração com o esfacelamento das ilusões.

Desde o berço sofro com uma visão baixíssima, mas aos 21 anos comecei a sentir uma perda progressiva da minha audição. No início optei por esconder o problema de meus familiares e amigos, isolando-me o quanto pudesse das pessoas, a fim de não precisar dar explicações ou evitar que se aborrecessem comigo, pois a essa altura todos já precisavam elevar muito a voz para falarem comigo.

Levei mais de um ano para cruzar a minha região desértica e buscar ajuda médica e profissional.

Caro leitor, a presente crônica é apenas uma pequena provocação que talvez, com um pouquinho da sua boa vontade mental, lhe ajude a entender que embora algumas vezes o deserto seja útil como um período de reflexão, ninguém precisa vagar por 40 anos ou mais num deserto íntimo para encontrar um oásis de felicidade.

Com medo ou munido de coragem; com fé ou ainda titubeante, abra-se para o novo e para o mundo, e aceite com serenidade e gratidão todos os desafios que a vida lhe propuser, porque no fim das contas tudo é aprendizado para a Vida Maior.