A MORTE DE UM SONHO(*)

Nos primeiros arroubos da juventude, Joãozinho, sempre aguçado às coisas ao seu redor, descobriu que teria direito à vida. Não uma vida simples, comum e sem objetivos delineados, mas uma vida glamorosa e cheia de prazeres.

Com uma inteligência privilegiada, arguta e um aprendizado rápido, conheceu e formulou estratégias para concretizar seus objetivos. Estava nascendo um desejo incomum dentro de seu coração. Seria seu sonho. Correria atrás dele.

Joãozinho partiu em busca de sua grande quimera. Acordado pensava e dormindo sonhava o seu sonho lindo. Nele viu concretamente o que era felicidade. Sentiu um amor como o idealizado. Tomou o néctar dos deuses e flutuou levemente entre as divas do Olimpo à procura do prazer supremo. Encontrou-o. Em delírios lascivos sentiu uma felicidade indescritível.

Sentiu e só sentia... Mas não sabia descrever. Queria continuar sonhando... E, sonhando sentiu o sonho do poeta.

Em um determinado momento, acordou acossado por demônios que não queriam sua felicidade. Quis continuar acordado vivendo o seu sonho, entretanto, encontrou com uma outra realidade. Esta, bruta, rota, invejosa e covarde. No amor idealizado viu pó. Não sentiu mais o cheiro e o orvalho matutino das flores. A alvura das pétalas agora era só aspereza e sem vida.

E como em um vôo de um bando de aves de rapina, sua vontade foi apropriada como num ataque aos restos da hiena. O ânimo do sonhador, antes desperto e ativo, foi-se esvaindo pelo esgoto da desilusão.

Nem o poeta Cruz e Souza seria capaz de fazer versos sobre o retrato dessa dor. Nem um escritor realista saberia dar vontade e sensualismo àquela carne, agora, despojada de desejo.

E numa agonia lenta, o sonhador e seu sonho encontraram-se com a morte.

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(*) O autor é professor de Literatura, Língua Portuguesa e Produção de textos.

E-mail: edsong@uai.com.br