BRONCA DE VELHO
Um dia desses, perdi as estribeiras. Encontrei um conhecido na rua, companheiro de viagem, e olha só o jeito que ele me cumprimentou.
– Oh, Saulo! Tudo bem. Como vai o amigo.
Fiquei indignado. Isso é modo de saudar um ancião?
– Me diga uma coisa: que idade você tem? – perguntei de cara feia.
– Cinquenta e oito anos – respondeu o rapaz.
– Moço! Não vou lhe dizer quando iniciei a minha vida sexual, mas fique sabendo que estou com 76 anos e, portanto, tenho idade para ser seu pai, embora posso lhe afiançar que nunca conheci sua respeitável mãe. Por isso, peço que me cumprimente com o devido respeito que meus cabelos pintados exigem.
– E de que jeito te devo cumprimentar? – me questionou o moço com olhos arregalados.
– “Te devo”, jamais, seu piá-de-bosta – rebati em um modesto lageanês. – Saiba que, no meu tempo, tínhamos o costume de pedir bênção aos mais velhos. Então, vou lhe ensinar a forma apropriada de se cumprimentar um conceituado senhor de 76 anos: você chega com reverência, abaixa um pouco a cabeça e, sem abanar os braços como se estivesse num grito de carnaval, diga com voz cadenciada:
“Bença, seu Saulo – ou se quiser ser mais amistoso: – Bença, tio Saulo.”
Além de saudar corretamente, aproveite também a oportunidade para ser gentil e mostre interesse pelo bem-estar de uma pessoa da terceira idade, perguntando:
“Como vão suas artroses, seu Saulo? O colesterol e os triglicerídeos estão em níveis desejáveis? Cuidado com a pressão alta, hein! Diabetes, nem pensar. Não exagere no açúcar e no sal que não fazem bem à saúde. Sugiro que logo compre uma bengala. O senhor viaja muito. De repente, pode tropeçar numa pedra e se machucar.”
Sabe o que o guri de merda fez: riu na minha cara, levantou o dedo médio para mim e ainda me zoou:
– Cuidado com o teu Vasco! Vai ser rebaixado de novo.
Pqp! Que ódio! Atrevido. Não se faz mais jovens educados como antigamente.
FIM