Tala larga, quem inventou?
Na minha crônica, onde falei sobre a palavra index, esqueci-me de fazer a conclusão que pretendia, que era a seguinte: parecia que a palavra index teria sido uma invenção dos economistas da época da inflação alta, mas já era utilizada desde sempre, por nós os matutos mineiros, no nosso delicioso jeito de pronunciar. O nosso index era indeis.
Feita a introdução, vou ao meu tema, que tem lá alguma semelhança com o que falei acima.
No meu tempo das oficinas, que me custearam a vida por muitos anos, tínhamos o privilégio de poder fazer dos nossos velhos carros, comprados a duras penas, belezas normalmente caras para quem tinha que pagar por tudo. A gente sabia fazer e nas horas vagas, fazíamos.
Vamos lá! Vou falar de um termo, que na época era um acessório, supérfluo, talvez, mas preferido para destacar os nossos veículos. Falo da tala larga. Será que ainda é conhecida? Ando tão longe do meio automobilístico.
A tala larga, para quem não conhece, eram rodas e pneus mais largos. Mudava-se a rodagem original pelas talas, às vezes exageradamente largas.
Como não poderia ser diferente, minha memória foi lá pra minha infância, o que me fez pensar, que muito antes da tala larga das oficinas, os meninos do meu tempo lá na roça, já faziam uso delas.
Carrego comigo um sentimento que não sei definir: parece uma frustração misturada com saudade. É que eu era bem pequeno e não me deixavam subir naqueles troles, que meus tios e primos, faziam e andavam. Eram troles tala largas. As rodas eram fatias de tronco de árvores, fatias largas furadas. Eram colocados eixos de madeira roliça, e tábuas tiradas das toras extraídas ali mesmo na propriedade. Meu avô, entre outras coisas, era carpinteiro com muitas ferramentas manuais, nada elétrico naquele tempo.
A pista saía de dentro do curral, tudo em descida, passava paralela à estradinha da barragem, fazia uma curva de noventa graus à direita, passava rente à muralha da usina, parecia um abismo para mim, descia em leve curva à direita até chegar no final que era onde estava o engenho de cana.
Aquela brincadeira durou muito pouco, meu avô era sensato e cuidadoso, alguém ia acabar se dando mal naquela descida muito perigosa.
Desconfio que ninguém inventa nada, alguém já fez algo parecido antes.