Prazo de validade
Gutemberg Armando Diniz Guerra
Engenheiro agrônomo
Luto desesperadamente para que meus lutos não me entristeçam definitivamente. As partidas de pessoas próximas, da mesma idade, um pouco mais, um pouco menos, de pessoas bem mais jovens, de pessoas bem mais idosas, todas têm cada vez mais um impacto devastador em mim. Fico, a cada momento desses, com uma sensação de que todos irão e ficarei sozinho, em uma espécie de eternidade solitária. Essa frequência das pessoas partindo não sei para onde, esse terminar suas vidas civis, esse diluir de corpos, esse desfazer da materialidade, por mais que os artifícios da religiosidade consolem, me dão uma angústia, uma sensação de vazio, de silêncio, de falta de possibilidade de interações que antes eram tão intensas. É como se o tempo de validade de cada um deles estivesse vencendo sem que eu pudesse ter identificado em seus corpos esse limite.
Eu tenho medo da tristeza, sim! Dessa eu tenho muito medo! Tenho receio que ela me ponha na imobilidade, me tire as forças para viver, para contemplar as belezas do mundo, para ler, para escrever, para falar, para andar, para sorrir. Principalmente para sorrir para as crianças e os jovens, onde mora a esperança de dias melhores e mais ternos.
Tenho consciência de que o luto é necessário para que a consciência de que há uma finitude se solidifique, se consolide, e seja aceita serenamente. Eu não tenho medo da morte, porque não acredito nela! Tenho medo da tristeza, sim, porque essa, sim, maltrata! A melancolia nos impede de ver o outro, de dar a volta por cima, de “cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz!”
O problema agora é que a rapidez com que as pessoas estão indo embora me dá uma sensação de que o chão pode faltar a qualquer momento. O mês de agosto, historicamente tão carregado de ameaças, me deixa aflito, apreensivo, atento, de orelhas em pé como cão na espreita de algo se aproximando, passos, cheiros, ruidos... Mas não tem nada se aproximando, mas se afastando. Lembro de Lindanor Celina, no fim de sua existência, em nossos encontros, a perguntar pelos amigos e nós informando que eles não mais estavam por aqui nesse mundo. Ela, sofrendo com aquelas negativas, vivendo distante de sua Belém e do seu querido Pará, exclamou: _Por favor, digam aos meus amigos para não morrerem mais, não! Rimos, porque apesar do sofrimento, ela dizia aquilo rindo, disfarçando o desconforto com o humor refinado de que era dona.
Agora esse apelo me habita: o de pedir aos amigos e conhecidos que não deixem de existir, que permaneçam nesse mundo, que não desponguem dessa nave do tempo e espaço que habitamos, que permaneçam vivos e resistentes ao tempo e às intempéries da vida.
O pior é que não há como desligar esse motor, de parar esse movimento de existir desexistindo. Por mais que queiramos ser e estar, estamos a cada dia deixando de ser e estar nesse mundo... Eu, porém, continuo dizendo: comigo, não! E repito o mantra de Franco Barreto, agora sem mais levantar brindes nem engolir alcoílas: Não morreremos!