O bom velhinho...
Olhava a esquina ao engraxar meu sapato na cidade, de frente para a rua, e ví um senhor bem idoso, bem maltrapilho, cabelos brancos, pedindo esmola entre os carros. Fim de tarde chuvosa, as pessoas dando a mínima, em meio a correria dos presentes de Natal, das guloseimas, e o velhinho alí, com um olhar perdido. Fiquei refletindo, enquanto a flanela lustrava meu sapato; exatamente em que momento da vida, ele desistiu, exatamente em que dia, ele parou de lutar, nasceu nú como nós, por mais miserável, alguma esperança de vida deve ter acontecido no seu nascimento. Abandonado, sobreviveu até os cabelos brancos. Não costumo dar esmolas, por acreditar que meus impostos devem suprir esta lacuna e não tenho culpa dos safados que desviam o dinheiro desta gente humilde, mas confesso que após o término do brilho no sapato, corrí para dar-lhe um pouco de atenção, mas já havia sumido na multidão frenética das compras de Natal. Imagine como é duro você parar um pouco e tentar adivinhar o que aqueles olhos sofridos esperam de uma noite como esta, em que a regra é o aconchego da família. Posso não ter tudo, mas hoje a noite terei um beijo carinhoso do meu filho, de minha mãe e de alguns bons amigos. Resolví pensar naquele velhinho hoje à meia noite, ele jamais saberá, mas terá dado um sentido divino ao meu Natal.