“CARRETEL 3” & “CARRETILHA”

Dizem que “pau que nasce torto morre torto” e eu fico pensando se “ele” nasceu mesmo assim ou se ficou porque sobraram maus exemplos e faltaram umas chineladas bem encaixadas... Sim, porque há um outro ditado que diz que “é de pequenino que se torce o pepino”, portanto, deve caber aos primeiros educadores (os pais, avós...gente da família) ensinar os princípios morais para que estes subsidiem as escolhas individuais dos valores.

Nesse ponto, creio que vale a pena diferenciar termos muito falados, mas pouco explícitos para muita gente: VALORES e PRINCIPIOS MORAIS. Há quem os julgue sinônimos, mas, verdadeiramente, eles não são. Ressalto, desde já, que não tenho formação filosófica, mas sei pesquisar e já tive de aprender a diferenciar uma série de termos similares para poder transmiti-los aos meus alunos.

Primeiramente, consideremos que valores vêm de VALORIZAR. Eles individualizam o modo de ser e o comportamento dos seres humanos. É importante lembrar que, por serem diferentes, as pessoas valorizam coisas igualmente assim. Isso nos permite inferir que nem todo valor é exatamente bom (os traficantes, por exemplo, valorizam coisas que só nos infelicitam). Claro que eles podem ser positivos, também, mas creio que dependerão de uma outra coisa: dos princípios.

Como o próprio nome permite deduzir, PRINCÍPIOS vêm do INÍCIO, daquilo que está na origem das demais coisas. Filosoficamente, eles “são o conjunto de normas que fazem parte da ética e constituem um marco de referência para o agir virtuosamente.” São alguns exemplos de princípios éticos: amor, igualdade, justiça, liberdade, verdade, paz, lealdade, integridade, transparência, impessoalidade, legalidade, dignidade humana, sustentabilidade...

Em outras palavras, eu diria que Valores estão mais atrelados à Moral, que é variável, temporal, que muda conforme o contexto, a época, o objetivo, a cultura, o tempo e o interesse do sujeito. Já os Princípios são preceitos universais, estão vinculados à Ética (visa ao bem do maior número de pessoas) e, assim como ela, são universais, imutáveis, atemporais, incontestáveis e inegociáveis.

Há, ainda, uma excelente diferenciação na internet, estabelecendo analogia entre esses termos e as propriedades de elementos como o diamante e o carvão. Nela, os princípios são comparados ao diamante, por esses serem muito caros, rígidos e inquebráveis; enquanto os valores são representados pelo carvão, que tais como essa substância, são mais maleáveis e frágeis.

Nem sei para que eu estou informando tudo isso, se os personagens dessa crônica dificilmente a lerão e se fizerem isso, também, não a entenderão. Mas, vamos a ela:

Luizinho, quando foi meu aluno, era um amor de criança. Super simpático, carinhoso, mas já tinha algumas características indesejáveis: era especialista em faltar as aulas, em colar nas provas, em não cumprir as promessas (nem as feitas aos santos), em pedir emprestado e não devolver, e em comprar e não pagar. Na verdade, a coisa já vinha de família, pois o seu avô e seu pai eram tão enrolados em seus negócios, que as pessoas da nossa cidade os apelidaram de: “Carretel 1” (o avô), “Carretel 2” (o pai) e “Carretel 3” (o Luizinho).

O tempo foi passando e como nada exemplar aconteceu ao nosso pequeno protagonista, ao se tornar um adolescente, além dos “valores” aprendidos com o avô e o pai e tão praticados na infância; ele fez “mestrado” em enganar as namoradas, tendo-as em número de meia dúzia, no mínimo, ao mesmo tempo.

Ele não sabe que eu sei, mas, quando adulto, ele fez “doutorado” em desonestidade: aprendeu a dar golpes, não apenas telefonando para aposentados, para oferecer-lhes empréstimos (daqueles que o dinheiro não entra nas contas dos velhinhos, mas as parcelas vêm descontadas nos seus contracheques), mas, também, para oferecer participação em “pirâmides”, compras de bitcoins ou, simplesmente, invadindo computadores, roubando senhas e fazendo compras com cartões alheios. Como que eu sei disso? Antigos parceiros seus, lesados por ele, me confidenciaram.

Morando em uma linda casa em bairro nobre, desfilando com motos e carros caros, ostentando roupas e joias de grifes famosas, ele já foi “juntado” umas 7 vezes, tem uns 14 filhos (uns dois com cada mulher), é cheio de amantes bonitas e é rodeado de gente capaz de fazer qualquer coisa para ser convidada para as muitas festas, que ele costuma dar em suas propriedades.

Recentemente, eu recebi um lindo convite de casamento dele, em rico papel e envelope de linho brancos, ambos escritos com letras douradas em alto relevo. Nele, sabe-se que a cerimônia acontecerá ao entardecer do segundo sábado de dezembro, em sua big fazenda, que é banhada por uma maravilhosa lagoa. Soube que o evento será celebrado por um juiz de paz e por um padre, que a decoração, os bolos e os salgados serão feitos por profissionais de BH, e que a animação ficará por conta de uma famosa e caríssima dupla de cantores sertanejos.

Olhei o nome da noiva e não a identifiquei como alguém que seja moradora da nossa cidade. Com minha capacidade imaginativa, já deduzi que ela deve ser uma mulher linda demais (ele nunca pegou mulher feia), mas ou é sonsa a ponto de não saber o que ele faz para ter dinheiro, ou ela é da mesma laia dele (quem sabe mais sabida?).

Acho que eu preferi enquadrá-la na segunda opção, pois toda vez que o assunto do casamento do ano vem à tona com os amigos, eu pergunto: Vocês também foram convidados para o casamento do “Carretel 3” com a “Carretilha”?

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 10/10/2023
Código do texto: T7905540
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.