A viagem (BVIW)
Há muito tempo que eu não andava de ônibus. Embora motorista medrosa, os deslocamentos têm sido sempre ao volante, de carro. Porém, deslocar -se ao centro da cidade é, comumente, um desafio: trânsito intenso, condutores impacientes em buzinaço, longas esperas para uma vaga de estacionamento... Então, vez ou outra, permito-me passageira pelos coletivos, o que tem lá suas vantagens e desvantagens. Por hora, o distanciamento do olhar é o que compete agora. Sem pressa e a tal da visão difusa que o motorista requer, encosto a cabeça na lateral do vidro e aninho meus pensamentos em nada, ou em tudo. Ora observando e apreciando a paisagem com o céu azul ou em nuvens mensageiras, as árvores arredondadas e coloridas em flores na praça, um beija-flor errante entre a turbulência do grande centro urbano. Ora uma leitura automática dos letreiros publicitários, um entristecer dos olhos para a miséria dos pedintes, em contraste com a correria dos dias e as sacolas de compras que desfilam entre os passantes. De repente, uma parada para as inquietudes internas e a mente vai e vem entre trabalho, família, projetos e sonhos. A sinaleira acende: " Parada solicitada". Em um clique olho o entorno e percebo que este também será meu ponto de desembarque. Desço com alguns outros, enquanto novos embarcam na porta vizinha. E a viagem segue, tal como a vida.
10/10/23