tudo o que agora está longe - BVIW
Estou há dez dias de completar 62 anos. Já vivi mais que minha mãe, e quem sabe consiga ir até os 92 como meu pai. Inevitável olhar as coisas agora com outros olhos. O tempo é um terrível transformador de cenários. No ensino médio, fiz um curso profissionalizante em processamento de dados. Programava em linguagens hoje mortas para um computador que ocupava várias salas e realizava pouquíssimas funções. Sem e-mail e whatsapp, meu namoro com meu marido foi à custa de longas e frequentes cartas, que hoje repousam numa grande caixa em algum lugar da casa. Sem falar nos intermináveis telefonemas interurbanos, fonte de querelas com a família pelo monopólio do aparelho e, principalmente, o tamanho da conta no final do mês. Mas nem só de romantismo viviam os correios. Eu aguardava ansiosamente a chegada dos livros que comprava pelo catálogo do "Círculo do livro" em primorosas edições de capa dura. Era chegar novembro e eu já começava a desenhar meus cartões de Natal. Até hoje sinto uma vaga tristeza por esse hábito de troca tão significativo ter caído em desuso. Não me impacientava com os comerciais da TV, ao contrário, até hoje posso cantar vários jingles que nos distraíam até a volta da atração principal. Poderia continuar desfiando inúmeras outras transformações das quais fui testemunha junto com todos os meus companheiros de jornada nascidos nos anos 60. O mundo muda, e é bom que seja assim. Não acredito num final de mundo apocalíptico. Mas sei que, antes de mim, várias outras gerações e seus mundos fizeram sua despedida. Assim como eu, devagarinho, também vou me despedindo do meu.