Compromisso

O porquê de eu entrar nesse mérito? Não sei.... Talvez porque seja uma expressão tão poderosa e tão subutilizada que merece ser abordada.

Eu sempre digo - não só eu como os maiores pensadores da humanidade - que a história faz o homem, na verdade faz a sociedade.

Podemos voltar um pouco ao passado?

Pois bem, quando o homem - falando de espécie - começou sua vida em sociedade, mesmo antes da escrita (acho que esse é o ponto principal), sua palavra era tudo que tinha, sua honra e sua glória, o que era dito era lei.

Com o passar das eras, com o conhecimento ou a corrupção inerente ao ser humano, a palavra dita parecia já não ter tanto valor.

Como exemplo histórico, na Grécia antiga, com o objetivo de auxiliar os proprietários de terras que haviam sido desapropriadas pelos seus nobres, a reaverem suas terras, uma vez que não havia um contrato escrito, precisavam entrar com vários processos e provar seus direitos de propriedade, com a necessidade de dar aos litigantes um meio de defender suas causas surgem os primeiros “Advogados”, professores de retórica que ofereciam aos litigantes esses meios.

Uma divagação aleatória, mas necessária.

Pelo dito, terceiros foram necessários para provar a palavra dita, fatos e atos descritos por quem detinha certo conhecimento, a palavra simples e honrada de um ser simples e honrado já não valia de nada.

De lá para cá a coisa só degringolou.

A palavra em sua honra e glória, foi trocada por contratos escritos, estes que valiam onde quer que estivessem, uma assinatura, uma marca, um carimbo, valia ouro.

Problema resolvido? Categoricamente não!

O ser humano em sua total depravação fez falsificações das mais diversas, deixando tais documentos sem validade alguma, seja jurídica ou social.

Pois bem, algo que me inquieta o coração precisa ser dito. O que se passa na mente de um ser que não cumpre com sua palavra? Porque tantos artifícios foram necessários para provar algo tão simples? Onde está a honra e o compromisso do ser humano com o que ele se digna a se comprometer? Sem palavras.

Já fui tida como retrógrada, como quem não acompanha a sociedade.

Sinceramente dessa sociedade eu não quero fazer parte.

Para mim, como diz um ditado, palavra dita e uma flecha lançada não têm volta, é fato consumado.

Engraçado que até nos mais singelos gestos se percebe a importância da palavra, do compromisso, vejamos um trecho do livro “O Pequeno Príncipe”: “Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieto e agitado: descobrirei o preço da felicidade!”

Uma frase tão simples: “te encontro às quatro”. Um compromisso tão singelo que ao ver de relance não é nada demais, mas que muda a vida da outra pessoa.

Se não cumpres com o que dizes o que será feito de mim que te espero tanto e com tanto desejo?

Até os filmes confirmam isso: "Honra é algo com que todos os homens nascem, não pode ser tirada de você, nem concedida, não se deve perder a honra." Os últimos cavaleiros. 2015.

Infelizmente, vivemos tempos de tanto egoísmo que não nos importamos com o peso de nossas palavras, dos compromissos que firmamos, por mais singelos que sejam.

– Se não der para ir tudo bem, não tenho que avisar com antecedência quem está esperando. Se me comprometi a fazer certa coisa ou suprir certa necessidade, qual diferença faz? Estou bem, é isso –.

A honra da palavra dita ou até mesmo escrita não existe mais, pois hoje não se contratam advogados para fazer cumprir um contrato, mas para encontrar um meio de burlá-lo.

A responsabilidade afetiva deu lugar a algo, por mim inimaginável, o egoísmo extremo.

Uma coisa eu digo, uma pessoa que não é capaz de cumprir um simples e singelo compromisso, não será capaz de cumprir nada além disso.