Repetição

Cometemos os mesmos erros, revivemos os mesmos traumas, nos saciamos com os mesmos vícios e acordamos no outro dia com um gosto amargo na boca de que mais uma vez fizemos tudo errado, mais uma vez perdemos pessoas importantes, mais uma vez nos decepcionamos conosco.

Caímos sempre nos mesmos enredos, nunca saímos da roda de sanssara dessa vida ingrata. Morremos e renascemos todos os dias, dia após dia, vida após vida e nossa única missão é superar a nós mesmos, nos reconciliar com nossa mente e nossos medos.

Os outros são coadjuvantes, mas são eles que sofrem por não conseguirmos ser pessoas melhores, são eles que já estão mais como estavam antes.

Vão dizer que basta uma decisão e que mudar de opinião é tão simples quanto erguer a mão, esquecem se que esse erguer a mão é abrir mão de tudo que conhece de si mesmo e que depois disso não será mais o mesmo.

Por essa razão nos agarramos ao que conhecemos, mesmo nos fazendo mal, mesmo nos perdendo nesse mundo infernal, mundo criado por nós mesmos como proteção contra o que desconhecemos.

Quando acordamos para essa realidade, percebemos que somos os maiores afetados por nosso próprio descaso, nosso ego inflado, nossa percepção deturpada de que não há nada mais a ser superado.

Mas acordar apenas não faz tanta diferença quando se sente insuficiente para fazer diferente, a percepção do todo na verdade piora ainda mais a situação e a culpa que toma conta do nosso ser só serve para aumentar a vontade de não mais viver.

Um ciclo vicioso que nos afeta de um modo assombroso, dia após dia, vida após vida, vemos a vida se esvair de nossos olhos, começamos e recomeçamos com a esperança de que conseguiremos, um dia, sairmos vivos, mesmos mortos, dessa trama criada por nos mesmos, onde nada de novo acontece e tudo nos entristece.

Até quando vamos viver assim? Eu não sei.

O Orubouros que tanto almejamos atingir a cada dia parece mais distante e o looping infinito entre a ciência de nós mesmos e o torpor diante dos acontecimentos, nos mantém presos num enredo onde erguer a mão, pedir perdão e aceitar ajuda nos parece ilógico, mas é a única forma de nos desvencilhar desse ciclo patológico.