Admirável mundo velho...


Na obra intitulada "Admirável mundo novo, de Huxley há uma organização política futurística que era chamada de Estado Mundial onde inexistem guerras, conflitos ou revoluções. Essa sociedade era dividida em cinco classes, e cada uma destas era destinada a cumprir uma função. Assim, os Alfas era criados para serem líderes, os Épsilons desempenhavam trabalhos manuais. Os embriões concebidos em laboratório, tal qual uma linha de produção na qual, por manipulação genética e condicionamento, eram desenvolvidos seres para desempenhar papel social que lhe eram atribuídos. Inexistiam figuras paterna, materna e mesmo gestação. A ordem política e social era organizada para fim utilitário de maximizar a felicidade de todos e de cada um. Para tal fim, foram suprimidos sempre as emoções fortes, os desejos afetivos e as relações pessoais mais intensas. E, diante de eventual frustração ou tristeza, se consumia uma droga capaz de extinguir sentimentos negativos, era denominada Soma. Enfim, todo o sistema era fulcrado no prazer, no sexo livre e não monogâmico. E, os que não se conformavam, eram exilados.

A sociedade humana de 1931 subsistia apenas como mera "Reserva Selvagem" aliás, as pessoas podiam até visitar e identificar os horrores de outra época, tais como a violência, rituais religiosos estranhos, sofrimentos e miséria. O único personagem que se rebela contra o modelo do Estado Mundial sucumbia ao sistema e, ao final, se suicida. É um aparente paraíso hedonista, porém, é totalitário e desumanizante.

Essa fábula descrevia que durante o sono eram ministrados cursos sobre quais as ideologias deveriam ser seguidas pelas pessoas e, assim nenhum pensamento escapava ao que era desejados pelas autoridades. A população era cientificamente organizada em sistema de castas, inexistia vontade lire, pois predominava sempre um condicionamento abrangente. E, para se evitar revoltas com tal padronização, os habitantes se submetiam a ingerir o comprimido da felicidade, o Soma. Eis, então uma sociedade perfeita e isenta de problemas. Mas, não. 

Eis um romance distópico de Aldous Huxley é incontornável para quem procura um dos exemplos mais marcantes da tematização de estados autoritários. 

Há duas explicações sobre o final do romance de Huxley, quando uma multidão se reunião para apreciar a automutilação do protagonista. É quando Lenina chega e, bate-lhe
também. E, os espectadores entregam-se a orgia, na qual John também participa. No dia seguinte, eivado de culpa e vergonha, finalmente, mata-se.  O tema fulcral do romance é apontar pela gritante incompatibilidade da felicidade com a verdade. E, ao longo do romance o protagonista argumenta que é melhor procurar a verdade, mesmo que haja sofrimento, do que aceitar a fácil vida do prazer e felicidade. Quando Mustahpha Mond lhe concede a liberdade de procurar a verdade através do sacrifício, John sucumbe à tentação do prazer vindo a participar da orgia. E, tal final, nos sugere que a felicidade incentivada pelos Controladores do Estado é uma poderosa força, maior até que a verdade que John tanto procura. O que pode sugerir que não há verdade para John encontrar. Porém, ele pode falhar na sua busca porque os Controladores tornaram impossível evitar a tentação pelo prazer e felicidade no Estado Mundial. Assim, a verdade deve ter um objetivo social, pois não pode ser apenas encontrada por indivíduos isolados.

 Noutra interpretação sobre o mesmo final do romance, a falha do protagonista na procura pela verdade, reside no fato de não realizar suas pesquisas de forma adequada. E, tanto que Huxley ao escrever o prefácio da obra em 1946, descreveu que John é feito para se retirar da sanidade, seu penitente nativo reafirma a sua autoridade e termina na autotortura maníaca e suicídio desesperado.   John foi derrotado pela sociedade vigente no Estado Mundial, a única alternativa que ele conhece é a religião autopunitiva da Reserva Nativa (“Penitente-ismo”). Essa religião é tão destrutiva para a procura da verdade quanto a ideologia da busca de prazer do Estado Mundial. Essa interpretação do final sugere que nem as formas tradicionais de procura de significado, como a religião e a arte, nem o futuro previsto na obra servem bem à humanidade, e os humanos devem encontrar um terceiro caminho em direção à verdade.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 05/10/2023
Código do texto: T7902139
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