PROFISSIONAIS DA MENTIRA

Pescadores são profissionais conhecidos por serem destemidos, já que têm coragem suficiente para enfrentar o mar. Eles também são conhecidos por seu poder criativo quando descrevem suas aventuras vividas em alto-mar, durante suas pescarias. As histórias de pescadores são curiosas, divertidas e muitas delas não deixam dúvidas quanto à sua veracidade. Outras, porém, logo deixam margens para se perceber com facilidade, tratar-se de uma grande mentira.

Mas, se alguém imagina que apenas os pescadores são capazes de criar narrativas mentirosas, está completamente enganado. A mentira é parte complementar no currículo de diversos profissionais. Agricultores, por exemplo, de tão mentirosos, podem ficar empatados com os pescadores, graças ao nível de criatividade inserida em suas histórias.

Meu avô materno, Sebastião Dodó, era agricultor e eu tive o privilégio de crescer ouvindo suas histórias criativas, o que muito contribuiu para desenvolver minha capacidade de imaginar as cenas, das narrativas que ele criava.

Nós morávamos em Baixa-Verde – Capital do Mato Grande. A cidade se tornou famosa por causa da quantidade de abalos sísmicos registrados em um único dia e por esta razão acabou figurando no Guiness-Book – o livro dos recordes. Por ocasião dos abalos, vários sismólogos foram a cidade, analisar o local, pesquisar, e descobrir as razões pelas quais a cidade sofria com tal fenômeno, uma vez que até então, o Brasil jamais havia registrado este tipo de catástrofe.

Descobriram, depois de muitos estudos e averiguações, que a cidade está localizada sobre um bloco de placas tectônicas. Estas placas se deslocam com o calor e acabam por se chocar umas contra as outras, ocasionando os tremores de terra.

Mas, o meu avô tinha uma explicação muito mais simples, criativa e divertida para explicar o fenômeno. Segundo ele, a Cidade de Baixa-Verde foi construída sobre uma área onde havia um rio caudaloso, que servia de cama para uma enorme baleia.

Com a construção da cidade, o rio precisou ser aterrado e apenas a cama da baleia foi preservada. Porém, devido ao pequeno espaço deixado, a baleia ficou encalhada e vivia hibernando a maior parte do tempo, como se fosse um urso polar. Certo dia, um grupo de meninos descobriram a cama da baleia, cujo lugar está localizado nas imediações do Açude Grande.

Na falta do que fazer, as crianças passaram a frequentar o local para suas brincadeiras, até o dia em que a baleia acordou. Um dos meninos, então, teve a ideia de dar-lhe Coca-Cola para beber. E foi o que fizeram: Deram litros e litros de Coca-Cola a baleia, que ingeria o líquido com visível prazer.

Depois de beber tanta Coca-Cola, em dado momento a baleia teve que arrotar e o arroto foi tão grande, que abalou toda a região do Mato Grande. Depois disto, a baleia voltou a hibernar, mas de tempos em tempos acorda para arrotar e os moradores da região sofrem com o desastre natural que tal ato provoca em suas vidas