Os cachorros bípedes de Berlim.
O mundo está de pernas para o ar, de cabeça para baixo... 'tá todo mundo louco, doido-de-pedra. Ou o mundo sempre foi de gente doida, não sei. Ou a gente do mundo está a endoidar, ou endoidando, sei lá. Ou está o mundo a entrar, ou entrando, nos eixos, pela primeira vez na história, quem sabe. Não sei o que pensar acerca do que estou pensando - ou do que estou a pensar. Às vezes, e quase sempre, penso, ao sacar da caneta, em um gerúndio, escrevo-o, e o substituo pelo verbo em seu estado natural. Foi o que se deu a pouco: gerúndio, ou infinitivo?! Sou radical: fora aos gerúndios! que me servem maravilhosamente bem em muitas ocasiões. Então: vivas aos gerúndios!
- E os cachorros bípedes de Berlim?! - pergunta-me o leitor, impaciente.
Ah! Sim! É mesmo... Esquecia-me deles, tão entretido com os gerúndios....
- Que que têm os tais cachorros bípedes de Berlim, personagens deste teu artigo?! - insiste, ainda mais impaciente, o leitor.
Os cachorros bípedes de Berlim, onde não sei se ainda há juízes, são caninos, presume-se. Ou não. Quem sabe?! E têm caninos. Ou são lupinos, sei lá eu. (Se os cachorros têm caninos, os lobos têm lupinos). Sei... Sei... Sei apenas que... Que sei eu?! Só sei que nada sei, ensinava um sábio, um daqueles que jamais recusava um convite para beber de um copo de cicuta...
- E os cachorros bípedes de Berlim?! - esgoela-se o leitor, deveras irritado, a perder, e perdendo, compreensivelmente, as estribeiras.
Os cachorros bípedes de Berlim se são de Berlim, ou de outra localidade germana, não sei; sei que eles têm cada um deles duas pernas e dois pés e pertencem à espécie, sabe-se lá se é verdade, humana, aquela espécie que, dizem por aí, e por aqui também, é a mais inteligente de todas as que na Terra engatinham, andam, correm, saltitam, pulam, arrastam-se, nadam, planam e voam. E eles deram - sei eu porque razão, e tampouco sei se é a razão racional ou irracional - de latir, dia destes - para a Lua, sei lá eu. Estavam, contou-me um passarinho, aquele de sempre, a reivindicarem não sei quais direitos e... E o quê?! Atenderam-lhes às reivindicações os homens sapiens e as mulheres sapiens que ainda conservam, e bem conservada, a massa cinzenta dentro da caixa craniana?! E eu sei! Acompanharam os cachorros bípedes de Berlim um intérpetre bílingue versado em cachorrês e humanês? Quem sabe?! Eu não sei. Não sei que fim levou tal história. Aliás, não sei se tal história encontrou um fim. Só sei que após inteirar-me do que ouviu não sei onde e tampouco de quem o passarinho bateu asas e voou - vuô, em dialeto castiço do Barnabé Varejeira, meu amigo, homem de sabedoria telúrica -, abandonando-me com os grilos que, além de me atanazarem, atazanaram-me. E eu, desapercebido de forças intelectuais para pensar a questão, não sei se acerca dela devo pensar alguma coisa.
O mundo está saindo, ou entrando, nos eixos? E eu sei?!
E quando os gatos bípedes de Berlim (se Berlim tem cachorros bípedes também há de ter gatos bípedes - e ratos bípedes também, ora bolas!) irão miar?!