Irmão Sol e Irmã Lua

Era o Dia de São Francisco em Canindé. E para lá se dirigiam todos os anos romeiros e devotos fervorosos de São Francisco. Muitos vinham a pé de Fortaleza pela rodovia por mais de cinco dias para pagar alguma promessa por uma graça alcançada. E a promessa era entrar de joelhos no chão da igreja até a imagem de São Francisco. São Francisco de Assis, um Santo, exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade. É o Santo Padroeiro de todos os que estudam e trabalham no campo da ecologia, amado também por muitos que não são cristãos. Manifestou uma atenção particular pela criação de Deus e pelos mais pobres e abandonados. Amava e era amado por sua alegria, a sua dedicação generosa e o seu coração universal. Era um místico e um peregrino que vivia com simplicidade e em harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo. O seu testemunho nos mostra também que uma ecologia integral requer abertura para categorias que transcendem a linguagem das ciências exatas ou da biologia e nos põem em contato com a essência do ser humano. Tal como acontece a uma pessoa quando se apaixona por outra, a reação de São Francisco, sempre que olhava o sol, a lua ou os animais, era cantar, envolvendo no seu louvor todas as outras criaturas. Entrava em comunicação com toda a criação, chegando mesmo a pregar às flores. Sentia-se chamado a cuidar de tudo o que existe. Se nos aproximarmos da natureza e do meio ambiente sem esta abertura para a admiração e o encanto, se deixarmos de falar a língua da fraternidade e da beleza na nossa relação com o mundo, então as nossas atitudes serão as do dominador, do consumidor ou de um mero explorador dos recursos naturais, incapaz de pôr um limite aos seus interesses imediatos. Pelo contrário, se nos sentirmos intimamente unidos a tudo o que existe, então brotarão, de modo espontâneo, a sobriedade e a solicitude. A pobreza e a austeridade de São Francisco não eram simplesmente um ascetismo exterior, mas algo de mais radical: uma renúncia a fazer da realidade objeto de uso e domínio.

Benedito José Rodrigues
Enviado por Benedito José Rodrigues em 04/10/2023
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