TUDO SE AVALIA: REFLEXÕES NA VÉSPERA DO CONSELHO DE CLASSE ("Pela forma como trabalha se avalia o artista". — Jean de La Fontaine)
Na véspera do conselho de classe, uma atmosfera carregada de expectativas e tensão paira sobre a escola. É o momento em que os professores, como eu, se preparam para justificar as notas atribuídas aos alunos, de acordo com seus méritos. Entretanto, existe um personagem nessa história, um indivíduo que se tornou "persona non grata" entre nós: o mestre, pois aprenderá da maneira mais marcante possível que não pode reprovar aluno algum.
Com muito critério prepararam um formulário que a escola proporcionou aos alunos para julgar os professores metodicamente; uma ferramenta que devia tratar apenas do aspecto profissional; porém, abrange também o pessoal. Ele serve, segundo minha perspectiva, para colocar o professor em seu devido lugar. Neste contexto, somos nós, os educadores, os vilões em destaque.
A avaliação é, para muitos alunos, apenas um meio de desabafar suas frustrações, expressar o quão chato é um professor ou o quanto detestam determinada matéria. E, veja só, por vezes, isso se torna um espetáculo cômico, quando um professor se vê como o monarca da sala de aula e, de repente, recebe um tapa de realidade por meio dessas avaliações.
Em toda a véspera do conselho de classe, quando olho para essas avaliações, encontro nelas uma mistura de ansiedade e desafio. Cada uma delas é uma narrativa singular, escrita com tintas da juventude e da experiência escolar. São vozes que clamam por atenção, que exigem ser ouvidas, e muitas vezes, revelam não apenas as impressões dos alunos, mas também nossos próprios erros e desafios como professores.
Ao longo dos anos, tenho aprendido que essa avaliação é mais do que apenas um mecanismo de feedback. Ela é um espelho que reflete nossas práticas e nos faz questionar nosso papel como educadores. A que ponto chegamos, o discente, instruindo o docente. Impera a inversão de valores. “Se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha". Não é apenas um modo dos alunos desabafarem, mas também uma oportunidade para nós, professores, refletirmos sobre nossa abordagem pedagógica e nosso relacionamento com nossos pupilos.
No conselho de classe, quando nos reunimos para analisar essas avaliações, é um momento de autoavaliação e crescimento. É o momento em que percebemos que, apesar de sermos os profissionais, ainda temos muito a aprender com nossos alunos. Afinal, o conhecimento não flui apenas em uma direção, mas é uma via de mão dupla, onde todos nós, professores e alunos, são eternos aprendizes.
Assim, a avaliação que um dia pareceu ser uma ameaça para o nosso status como professores, na verdade, se revela como um instrumento de crescimento e evolução. É uma lição de humildade e um lembrete de que, no final das contas, todos estão aqui para aprender e crescer juntos.