Ideal

Como dizem por aí: “o que diferencia o ser humano dos animais é sua capacidade de racionalizar”.

Pois bem, assim sendo, o ser humano, que nasce com essa característica inicia sua trajetória na vida social já fadado a imaginar, desejar, idealizar.

As más línguas dizem que alguns não o fazem, mas a acredito que a maioria sim.

Se do momento em que tomamos conhecimento de nosso próprio ser racionalizamos e se racionalizar significa questionar, desejar, idealizar, sem restrição do que quer que seja, em algum momento de nossas vidas nos depararemos com algo idealizado, sonhado, desejado.

Sabe quando a criança deseja crescer, ser adulto e dono de sua própria vida, sem ter que obedecer as ordens dos pais, tios, avós ou de qualquer adulto que se julgue no direito de mandar nela? Aquilo é sua definição de felicidade.

Cria em sua mente exatamente como seria. Nossa, perfeito!

Mas te pergunto: Qual criança, exercendo seu papel de criança efetivamente, se prepara para o momento idealizado, mesmo sabendo que ele chegará? Você se preparou para esse momento? O que idealizou quando criança se concretizou naqueles exatos termos?

Ou ainda, quando encontramos algo ou alguém que é exatamente o que queremos ou desejamos, por vezes sem explicação, nada ou ninguém consegue demover-nos da vontade de ter aquilo ou aquela pessoa.

Não digo, nesse caso, do desejo de possuir, mas de fazer parte. É como se aquilo ou aquele, no momento que entrou no nosso caminho passasse a fazer parte de nós e tudo que idealizamos, vira e mexe, vai e volta, termina ali, naquele lugar, naquela pessoa.

Desejamos tanto, queremos tanto, mas não nos preparamos para aquilo. Não fazemos nada para que um dia possa ser real, possa acontecer.

Quando crianças a idealização de ser adulto é tão distante, mesmo tão presente, que não nos damos conta de que “um dia” se realizará e assim o tempo passa e deixamos nas mãos dos adultos a tarefa de nos tornarmos adultos.

Dessa forma, na maioria dos casos, nos tornamos o adulto que precisamos, não o que idealizamos e colocamos a culpa disso nos outros adultos que nos criaram, na sociedade.

“Somos o que precisamos ser”, sem muita influência interna e aquela definição de felicidade infantil se torna nosso maior tormento, quem não deseja voltar a ser criança?

Assim também o é com aquilo ou aquele alguém!

Por vezes estaremos diante da realização do ideal desejado, mas não estaremos preparados para ele, sempre haverá algo que impeça que aconteça e esse algo foi criado por nós e está ali porque queremos que esteja.

É como se tivéssemos a resignação de que é o que nos resta. Aquele ideal não passa disso mesmo!

Muitos fatores, atores e principalmente consequências nos fazem inconscientemente manter o ideal no seu devido lugar.

Assim como a criança idealiza como é ser adulto, quando desejamos algo ou alguém de uma forma sem explicação não temos a real consciência de como seria se acontecesse e isso dá medo.

Alguns diriam: “Se tiver medo, vai com medo mesmo”. Essa é uma das mais belas falácias já ditas. Por não estarmos preparados, o medo, na maioria dos casos, nos paralisa e nos perdemos do objeto idealizado.

Quando desejamos algo ou alguém com segurança do que virá depois somos impulsionados a lutar, enfrentar o que ou quem quer que seja, fazemos por onde, nada nos impede.

Então, é como se por esse medo do além, do que não se vê, criássemos mecanismos que nos impedem de nos mantermos livres para viver isso.

O ideal por si não é capaz de romper essa barreira por uma única razão, se não der certo não poderemos imputar a mais ninguém o fracasso, é nossa culpa, nossa máxima culpa. Mas com isso também jamais saberemos se poderia dar certo, jamais saberemos se somos capazes de tornar possível.

A criança não tem escolha, se tornará adulta, mesmo não sendo como idealizou, mas nós adultos optamos, temos esse poder.

O que fazemos com ele é que define se viveremos eternamente idealizando, desejando, vendo de longe, como um sonho, o que poderia ser nossa vida ou enfrentando o medo e se abrindo para viver o que desejamos, mesmo que no fundo não seja naqueles exatos termos. Sempre seremos culpados dando certo ou não.