CAMELÔ

Tem origem na palavra árabe khamalat, que foi adaptada ao francês no verbo cameloter (vender quinquilharias) e posteriormente aportuguesado para distinguir dos demais, aqueles vendedores ambulantes, geralmente nas ruas das grandes cidades, que se notabilizavam pela fala fácil e alto poder de convencimento ao oferecer as mercadorias, muitas vezes desnecessárias, com os preços bem abaixo dos praticados nas lojas regularmente instaladas.

Hoje aqueles camelôs tradicionais já não se encontram com facilidade, porque com a imigração descontrolada dos últimos anos, as cidades estão tomadas por estrangeiros que, por força das circunstâncias, se tornaram vendedores ambulantes mesmo sem saber falar o português com a fluência necessária e característica dos folclóricos camelôs dos antigos tempos.

Além das mercadorias de origem duvidosa com a máxima “la garantia soy yo” os camelôs disponibilizavam tudo aquilo que as pessoas estivessem necessitando na ocasião.

Tipo guarda-chuvas quando, inesperadamente, desabava-se o mundo em aguaceiros durante o dia que iniciara ensolarado ou água gelada quando o sol transladava as escaldantes portas dos infernos para as praças ou ruas movimentadas.

Canetas de diversas cores numa só peça, facas e amoladores, descascadores e cortadores de hortaliças com a demonstração de como utilizar aquelas maravilhas.

Gravatas, pentes, espelhos, cortadores de unha, cintos, enfeites pessoais ou para residências, anéis, relógios de pulso ou despertadores, brinquedos importados para o dia das crianças, máscaras de papel, fantasias e adereços para carnaval, balões para as festas juninas, objetos horripilantes para o dia das bruxas, adereços para as árvores de natal e séries de pisca-pisca com lampadinhas multicoloridas.

Chocolates na semana santa, frutas secas ou de época (principalmente laranja descascada na hora), pilhas alcalinas contrabandeadas, (porque o Brasil não “sabia” produzir), lanternas, sandálias de dedo (que era a última novidade vinda de São Paulo), maços de velas, flores frescas ou artificiais para o dia das mães, dos namorados, dos santos padroeiros e dos finados...

Como diz a letra do samba, “ele é vesgo, pois a profissão ensina, a ter um olho na esquina e outro no freguês” que caracteriza a agilidade e prontidão mais do que necessárias para fugir da repressão do “rapa” e para o bom atendimento à clientela.

Mas toda atividade espontânea morre quando se quer oficializar e assim, os tradicionais camelôs do Recife deixaram de existir quando a prefeitura resolver criar o camelódromo da Bantas Barreto, com licenciamento, ponto fixo, impostos, etc.

A mega construção está instalada naquela avenida que liga nada a canto nenhum cuja implantação serviu para apagar, pela destruição das igrejas e demais construções, o patrimônio histórico e sócio/cultural gravados nas sinuosas e estreitas ruas do bairro de S. José e que é prova contundente de inutilidade e da falta de planejamento estratégico para o desenvolvimento das cidades.

CITAÇÃO:

Camelô – Samba de autoria de Billy Blanco

La garantia soy yo = eu sou a garantia.

Rapa = fiscal da prefeitura encarregado da repressão ao comércio ilegal