"O Passado é uma roupa que não se usa mais"
Ainda gosto do mesmo time que gostei desde menino. Não acompanho mais futebol, não assisto mais aqueles programas e nem noticiários sobre o assunto.
No último final de semana, com muita alegria fui à praia com os filhos e netos, cujo objetivo principal era ir ao estádio ver o nosso time do coração jogar.
Ficou no tempo aquela vontade louca de pular ondas e gritar nas arquibancadas, a preferência de agora é sentar nos quiosques, observar os movimentos e as paisagens, comendo os petiscos gostosos, sem ficar imaginando como e onde foi feito. A experiência faz prevalecer a ponderação, para no final o bem estar ganhar jogo.
Falando em jogo, no jogo fomos somente os homens, por dificuldade em conseguir ingressos e pelo interesse das mulheres em ir ao shopping, que ganhou a preferência delas em relação à praia, o tempo era chuvoso. Nosso time ganhou bonito, foi bom de verdade ver meu netinho torcendo feliz. Gostei muito, é claro! Jogo no estádio é outra coisa. A gente tem que vencer o medo do aperto e da multidão.
Do meu time eu conhecia somente dois jogadores, do adversário, nenhum.
Falei nessas andanças, perambulei nessa conversa toda para chegar num momento, que foi gostoso e ao mesmo tempo interessante, que me fez refletir mais ainda sobre a vida e se existe uma receita certa para vivê-la.
Sentamos para almoçar em uma padaria próxima ao estádio. Reconheci na mesa ao lado, jogadores de futebol do passado, não lembrei dos nomes. Eles já estavam lá e nós ficamos bastante tempo, até a hora de irmos para o campo e as mulheres para as lojas.
Na mesa dos jogadores, as garrafas cheias iam substituindo as vazias, cumprindo o papel de alegrar a todos. Muitos risos, não originados de piadas, mas dos fatos vividos que cada um procurava um espaço para colocar os seus.
Nenhum daqueles senhores estava com roupa que identificasse qualquer clube ou torcida. Não passavam de pessoas comuns nos olhares dos passantes daquele lugar.
Não percebi nenhum interesse deles naquele jogo que iria acontecer naquela hora ali pertinho. Penso com quase certeza que não foram ao estádio, não sei.
Talvez fosse interessante uma vacinação em massa, visando evitar que alguém tente reviver o passado, o que parece impossível. Que o futuro ceda ao passado um espaço sim para se apresentar, na condição de que não ocupe o lugar de destaque, que é do presente a ser vivido.
O título é de uma música do Belchior.