⚫️ O conceito do nada a nível de pertencimento enquanto arte
Em exposições artísticas, se, acompanhando a peça, vem o aviso performance ou instalação, logo sei que vem picaretagem. Talvez eu não entenda nada de produção artística; quem sabe a mente do artista acesse uma dimensão que eu jamais compreenda. Entretanto, eu nunca vou fazer o papel de palhaço admirando uma tela em branco ou entulhos de construção; pior, enaltecendo um simples mictório.
Algo que promete a subversão ou a mudança dos rumos da arte tem tendência a ser um embuste muito caro. A suposta explicação geralmente tem a probabilidade de ser extensa e falsamente complexa, diferente da obra, que revela falta de criatividade e talento.
Nas exposições que fui, jamais corri o risco de contemplar um objeto aleatório. Mesmo que por pura paranoia, acredito que o autor fique rindo desse público que leva tudo a sério. É preferível passar por ingênuo, tentando decifrar um barquinho na beira do rio ou uma casinha com fumaça saindo pela chaminé, do que ser vítima de um charlatão. Tentando não deixar passar nenhuma manifestação da observação privilegiada do artista, o observador metido a culto corre o risco de parar em frente a um porta guardanapos ou uma torradeira elétrica esquecida por alguém do refeitório.
Certa vez, assisti a uma mostra onde resolveram incorporar o resto de uma obra (demolição). O entulho ganhou o “status” de “instalação” e deve ter sido contemplado com criativas interpretações. Quem perscruta o significado oculto de um objeto aleatório corre o risco de terminar prostrado em frente a um extintor ou cesto de lixo.
As mostras de arte moderna são armadilhas para esse tipo de truque, bem como um chamariz para esse naipe de público. Por exemplo, quando bebia vinho, eu me arriscava, no máximo, a cheirar a bebida, para não ser confundido com um alcoólatra; no entanto, a falcatrua viria à tona se eu fosse arguido sobre a procedência do produto: provavelmente, eu confundiria alguma cidade francesa com Diadema ou Osasco.
A vantagem de gostar de obras simples, e inteligíveis, é não ser flagrado contemplando um mictório, uma tela baldia, uma pilha de entulhos, um cesto de lixo ou um extintor.
Para encher a cara de vinho branco, num vernissage, basta dizer bobagens pretensamente intelectuais com um “pedágio ideológico progressista” como: urbanidade imersa na decadência capitalista.