CONVERSAS NA CERCA
O elevador estragado faz com que Maria Clara suba até o quinto andar do prédio onde tem seu apartamento.
Moradora do edifício "La barca" já a três anos, a jovem detém-se na subida pela escadaria a pensar que, embora tão próximos, não conhece a maioria dos moradores do prédio, principalmente dos demais andares. Percebe que pouco sabe da vida dos vizinhos do quinto andar. Lembra de dona Rosa viúva de um militar, com duas filhas moradoras do exterior; de Ana Rita enfermeira da Santa Casa de Misericórdia e do casal luzia e João Luiz , professores da rede pública, com duas filhas, pequenas bailarinas.
Fora isso, contenta-se a jovem executiva com acenos de cabeça ou um leve cumprimento.
Suas lembranças viajam no tempo e Maria clara lembra sua infância e adolescência, na pequena cidade de Pedra Branca, lembra das tardes em que chegando do colégio,
por tantas vezes, avistava de longe a mãe, dona Júlia, junto a cerca que separava a sua casa da casa da vizinha, em uma animada conversa. A jovem constata ser esse um dos
poucos entretenimentos das mulheres que, naquele época não informatizada, tinham como opção para os momentos de descanso, encontrando grande parte do seu laser nas conversas com a vizinha do outro lado da cerca .