A dor é a cor de um sentimento.

Não há cor que mude sem que lhe toque a luz do sol.

Não há dor que se cure sem que exista um novo amanhecer.

- Tarcisio Bruno -

 

 

 

A TRISTEZA PRECISA SER UMA PONTE PARA O RISO.

 

Na vida, nesse intervalo chamado existência, vivemos acontecimentos bons e ruins, tempos de gozo e regozijo e procelas de dor e tempestade. É preciso singrar na calmaria e também no mar revolto para ter a cátedra da navegação. É mister viver e morrer algumas vezes, afogar-se e emergir.

 

“Navegar é preciso. Viver não é preciso"

 

As adversidades são inevitáveis e o sofrimento, infelizmente, não é opcional como afirmou Drummond, todavia a melancolia não pode ser perene. Nas intermitências das lágrimas temos que fazer ressurgir os melhores sorrisos. A lágrima é um rio que corre para lavar a alma, o sorriso é o sol que seca a tempestade.

Para os momentos tristes sempre amei a solidão, não como isolamento, mas como reclusão necessária e indispensável para encontrar alívios e respostas nas águas limpas e diáfanas que sempre são solitárias. Alguns chamam de meditação, e é neste momento de reflexão que respiramos o ar que leva às paisagens do conhecimento e d’alma. O alívio da dor que pode evitar o ato último do suicídio, ainda que Albert Camus tenha dito que esse desencarne é “um ato preparado no silêncio do coração, como uma grande obra de arte”. “O mito do Sísifo” de Camus e “Os sofrimentos do jovem Werther” de Goethe são leituras belíssimas e indispensáveis. Entretanto, é preciso navegar! Imperioso viver e amar.

Nos momentos de alegria é necessário fazer irradiar essa luz para o túnel da dor. Como o amanhecer que surge para dizer que um novo dia começou. É nesse instante de carinho que devemos fazer nascer a eternidade, não como um estado indelével, mas como chama que aquece e não deixa o frio da dor se expandir. Quando termina a noite, as plantas surgem orvalhadas, mas os primeiros raios de sol secam e fazem crescer, sorrir e brilhar.

Construa pontes! Chore sempre e sorria muito mais. A vida é muito curta.

Ame, ame e ame, mas acima de tudo, deixe que todos possam amar.

 

Do vinho das lágrimas vem a sobriedade do riso
 
A despeito da dor,
à parte de toda tristeza
rasgada no peito,
as lágrimas insistem em sorrir...
Como uma ópera grega
em ode lírica da vida
que canta alegre a alma
Linda catarse que não corrompe.
De ausência em ausência
vou construindo quase sem forças
a lembrança de um esquecimento
que inexiste.
O coração alheio
se não o sinto,
faz perder-me em presença.
O que me faz falta,
ontem não lembrei
para hoje esquecer
e não ser sequer mais saudade.
O esquecimento é a luz
onde a lembrança vence
a escuridão do amanhã,
ainda que o peito saia derrotado.
Mas só bebendo o vinho das lágrimas
é que se encontra a sobriedade do riso.