CAMINHANDO PELA PRAIA DE PARATY ...

 

Acordo hoje já bem antes d’alvorada

Mas, não porque perdera o sono ou roubado fora por’alguma ansiedade

Nada disso

Era natural

E saborosamente espontâneo

 

 

Ao que também n’àquel’hora uma “força” para fora de mim s’exercia

E subitamente fui caminhar pela praia deserta

Acompanhado apenas de meus pensamentos

 

 

E na manhã daquele dia pude perceber [mais que antes] a beleza d’aurora

Interessante quando às vezes um mental paradoxo se faz

Em que se sente vazio e ao mesmo templo completo (pleno)

Uma indescritível bênção a se fazer presente

 

 

Como viver bem nest’exílio se não for tocado pelo menos de vez em

quando no que desperta a admiração e o deleite dos olhos?

Mesmo que ilusório e, portanto, fugaz seja no tempo

E a quem importância de sua brevidade daria

em tais momentos onde até esquecemos que tudo [aqui] passa?

Feitiço do tempo ou da vida?

Pouco importa d’onde vem

 

 

Um dia agradável

Uma bela tarde

Uma linda e formosa mulher

Impossível não avivar n’alma uma emoção prazerosa incitada, pois,

pel’admiração no que aos nossos olhos lhes tocam

E totalmente irresistível

 

 

E nem sei s’estou nest’hora a me faltar ou não co’a razão

Em razão [sei lá!] do poder produzido desta alucinação (ou não)

Já que tão confuso m’encontrava agora!

Todavia, não me perturbava com isto

De form’alguma

 

 

Para que serviria a formosura que não foss’então para ser vista?

E que “coisa” é esta em suas formas que me arroubam a mente

no que me assombro e m’extasio?

Sim, que coisa é tal que m’enleva ao qu’eu não creio que seja ... “nada”?

 

 

E eis que contemplo a paisagem n’uma cert’hora

em que minh’alma [ali] se cala

Quanto gozo neste “dinâmico silêncio”!

Brisa e calmaria a s’esculpir n’àquela praia de Jabaquara

Ó Paraty, em suas imagens onde o tempo parece que parou

Serias, pois, uma imagem do paraíso?

E destarte eu me sentia n’um paradoxo entre estar vivo e morto

Ou acordado ou sonhando, não sei!

 

 

E aquela linda sereia corada de melanina a me provocar

(ao que deste modo concluía)

E que à minha frente passeava como a querer comigo brincar

 

 

Qual é a realidade de tudo no meio de tantas ilusões?

E que destino verdadeiro nos espera neste caminho que

ninguém sabe onde dará?

Ou será que nem existe de fato um caminho a se concluir que

nossos esforços não darão em nada?

Se for, temos [aqui] apenas o presente tempo ... e só

Já que o passado não mais nos pertence (que não seja [ele] feito de

arrependimentos e, assim, de tempo perdido!)

E o futuro também não virá!?

 

 

Todavia, temos a sensação [no presente] de estarmos vivos

E se a vida e suas expressões só existem “dentro de nós”,

o que há lá fora não é, na verdade, real

Porém, fato é que fortemente nos afetam

Como “afetado” estou agora

Oh! que viagem, meu Deus!

 

 

E nest’hora igualmente deixei de pensar, oh! que milagre!

D’atividade mental que cessou

Afastando de mim os barulhos da grande cidade em que [nela] moro

Ou não mais escutando o samsara a qu’era minh’alma até então

Adentrando-me no nirvana que por muito tempo o deixei

Quem sabe, no inocente período de minha doce infância

Em que via tudo sem julgar e, muito menos, condenar

E apenas me deliciava com tudo o qu’eu percebia

Bons tempos aqueles ...!

 

 

Mas, ah! tão bom estar [por vezes] com o coração aquietado!

Das escuras névoas às quais d’uma mística luz fogem

E se achar envolvido ... de “vida”

A não me lembrar de cois’alguma

Sim, de nada a se ter [nenhuma] lembrança

 

 

E assim seguia [eu] por aquela mística [mas real] praia

A degustar do barulho das ondas do mar

E como a estar minh’alma entorpecida pelo fragor da maresia

N’aquele instante a qu’estava virando a página de mais um dia

No pôr do sol que naquele lugar lindamente s’esculpia

 

 

E então ...

O que é verdade e o que é mentira nesta vida, meu Deus?

E para qu’existimos que não seja para “o momento d’agora”?

Todavia, quantos o desperdiçam deixando-o passar e ir embora!?

 

 

Oh! Tão bom estar [por vezes] alheio ao mundo!

E caminhar sem rumo como estou [eu] fazendo nest’instante

E sem nenhuma lei a m’escravisar co’alguma falsa e hipócrita moral

Destas qu’exigem qu’eu negue minha natural humanidade

E, portanto, a ser [eu] nest’hora uma “alma anárquica”

 

 

Oh! Deus me livre dos “juízes” e moralistas do mundo!

Gente nojenta e sem graça!

Ah! para que estou pensando neles agora?

Estou maculando meu “psicológico tempo”

A me deixar levar por tão ridícula tentação

Melhor deixá-los pra lá!

 

 

E as luzes naturais eis que logo mais se apagarão

Deste lindo dia a se agonizar

E minh’alma vagabunda como tão bem o aproveitou!

Será que verei aquela sereia amanhã novamente?

Esta que me seduziu com o “canto de sua beleza e formas” ?!

Quem sabe!?

 

 

Carlos Renoir

Rio de Janeiro, 30 de setembro de 2023

 

ILUSTRAÇÕES: FOTOS DE IVI PIZZOTT, ONDE TRABALHEI COM EDITORES DE IMAGENS

 

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FORMATAÇÃO SEM AS IMAGENS

 

CAMINHANDO PELA PRAIA DE PARATY ...

 

Acordo hoje já bem antes d’alvorada

Mas, não porque perdera o sono ou roubado fora por’alguma ansiedade

Nada disso

Era natural

E saborosamente espontâneo

 

Ao que também n’àquel’hora uma “força” para fora de mim s’exercia

E subitamente fui caminhar pela praia deserta

Acompanhado apenas de meus pensamentos

 

E na manhã daquele dia pude perceber [mais que antes] a beleza d’aurora

Interessante quando às vezes um mental paradoxo se faz

Em que se sente vazio e ao mesmo templo completo (pleno)

Uma indescritível bênção a se fazer presente

 

Como viver bem nest’exílio se não for tocado pelo menos de vez em

quando no que desperta a admiração e o deleite dos olhos?

Mesmo que ilusório e, portanto, fugaz seja no tempo

E a quem importância de sua brevidade daria

em tais momentos onde até esquecemos que tudo [aqui] passa?

Feitiço do tempo ou da vida?

Pouco importa d’onde vem

 

Um dia agradável

Uma bela tarde

Uma linda e formosa mulher

Impossível não avivar n’alma uma emoção prazerosa incitada, pois,

pel’admiração no que aos nossos olhos lhes tocam

E totalmente irresistível

 

E nem sei s’estou nest’hora a me faltar ou não co’a razão

Em razão [sei lá!] do poder produzido desta alucinação (ou não)

Já que tão confuso m’encontrava agora!

Todavia, não me perturbava com isto

De form’alguma

 

Para que serviria a formosura que não foss’então para ser vista?

E que “coisa” é esta em suas formas que me arroubam a mente

no que me assombro e m’extasio?

Sim, que coisa é tal que m’enleva ao qu’eu não creio que seja ... “nada”?

 

E eis que contemplo a paisagem n’uma cert’hora

em que minh’alma [ali] se cala

Quanto gozo neste “dinâmico silêncio”!

Brisa e calmaria a s’esculpir n’àquela praia de Jabaquara

Ó Paraty, em suas imagens onde o tempo parece que parou

Serias, pois, uma imagem do paraíso?

E destarte eu me sentia n’um paradoxo entre estar vivo e morto

Ou acordado ou sonhando, não sei!

 

E aquela linda sereia corada de melanina a me provocar

(ao que deste modo concluía)

E que à minha frente passeava como a querer comigo brincar

 

Qual é a realidade de tudo no meio de tantas ilusões?

E que destino verdadeiro nos espera neste caminho que

ninguém sabe onde dará?

Ou será que nem existe de fato um caminho a se concluir que

nossos esforços não darão em nada?

Se for, temos [aqui] apenas o presente tempo ... e só

Já que o passado não mais nos pertence (que não seja [ele] feito de

arrependimentos e, assim, de tempo perdido!)

E o futuro também não virá!?

 

Todavia, temos a sensação [no presente] de estarmos vivos

E se a vida e suas expressões só existem “dentro de nós”,

o que há lá fora não é, na verdade, real

Porém, fato é que fortemente nos afetam

Como “afetado” estou agora

Oh! que viagem, meu Deus!

 

E nest’hora igualmente deixei de pensar, oh! que milagre!

 

D’atividade mental que cessou

Afastando de mim os barulhos da grande cidade em que [nela] moro

Ou não mais escutando o samsara a qu’era minh’alma até então

Adentrando-me no nirvana que por muito tempo o deixei

Quem sabe, no inocente período de minha doce infância

Em que via tudo sem julgar e, muito menos, condenar

E apenas me deliciava com tudo o qu’eu percebia

Bons tempos aqueles ...!

 

Mas, ah! tão bom estar [por vezes] com o coração aquietado!

Das escuras névoas às quais d’uma mística luz fogem

E se achar envolvido ... de “vida”

A não me lembrar de cois’alguma

Sim, de nada a se ter [nenhuma] lembrança

 

E assim seguia [eu] por aquela mística [mas real] praia

A degustar do barulho das ondas do mar

E como a estar minh’alma entorpecida pelo fragor da maresia

N’aquele instante a qu’estava virando a página de mais um dia

No pôr do sol que naquele lugar lindamente s’esculpia

 

E então ...

 

O que é verdade e o que é mentira nesta vida, meu Deus?

E para qu’existimos que não seja para “o momento d’agora”?

Todavia, quantos o desperdiçam deixando-o passar e ir embora!?

 

Oh! Tão bom estar [por vezes] alheio ao mundo!

E caminhar sem rumo como estou [eu] fazendo nest’instante

E sem nenhuma lei a m’escravisar co’alguma falsa e hipócrita moral

Destas qu’exigem qu’eu negue minha natural humanidade

E, portanto, a ser [eu] nest’hora uma “alma anárquica”

 

Oh! Deus me livre dos “juízes” e moralistas do mundo!

Gente nojenta e sem graça!

Ah! para que estou pensando neles agora?

Estou maculando meu “psicológico tempo”

A me deixar levar por tão ridícula tentação

Melhor deixá-los pra lá!

 

E as luzes naturais eis que logo mais se apagarão

Deste lindo dia a se agonizar

E minh’alma vagabunda como tão bem o aproveitou!

Será que verei aquela sereia amanhã novamente?

Esta que me seduziu com o “canto de sua beleza e formas” ?!

Quem sabe!?

 

Carlos Renoir

Rio de Janeiro, 30 de setembro de 2023

O Pincel e a Paleta
Enviado por O Pincel e a Paleta em 30/09/2023
Reeditado em 30/09/2023
Código do texto: T7897901
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