UM CAMPONÊS MINEIRO (crônica)
A crônica, é a persona fotógrafa do autor registrando os momentos. Registrando o cotidiano. Ela, é um textual que permite ao autor registrar pelas palavras o que viu e sentiu, embora, faculta-o atenuar, embelezar ou enfeiar o que presenciou com a poesia reinante daquele momento.
A poesia está em tudo; no conto, romance, na crônica. A crônica pode ter poesia, mas jamais será poema ou a imaginação da ficção. Ao autor, a vida aciona um clic fotográfico daquele momento que deve ser relembrado por si em todos os seus pormenores. Não se pode ser um mentiroso enquanto escreve uma crônica fazendo-a simples e singela.
Tem que ser um texto fiel ao fato, mas sem ter o sentido de um poema, do conto ou romance, pois muitas palavras na ficção, ao imaginário têm seus significados, enquanto na crônica é pura realidade, feliz ou não. O cronista não é fotógrafo que tem um equipamento nas mãos. O cronista precisa apenas de um segundo de olhar e variados sentimentos que caibam na singeleza e na simplicidade.
Eis uma crônica recentemente fotografada por mim...
Ele, é um camponês mineiro. Trabalha duro 365 dias no seu ano para manter a roça de seu sustento. E o clima desse ano o judiou como um juiz parcial, sentenciando-o ao parco auxílio-família mensal para a paupérrima vida familiar. Ele luta pelos seus, e as autoridades lutam, quase sempre, contra si e familiares. É um digno camponês, enquanto as autoridades o consideram um campónio, apenas assim. Para registrar a maldade não se precisa de muitas palavras, apenas, presenciar os sentimentos maus disfarçados de títulos ou políticas.
Ele, quando se apresentou ao serviço de limpeza do jardim a cada quinze dias, bico de sustento ao acréscimo de renda, seu olhar era o de sem pano de fundo, inerte e triste, sem vida, uma fisionomia simplória como a foto três por quatro do seu rosto estampado no papel-moeda da sua identidade, a única lembrança de que ainda é um cidadão.
Após o trabalho realizado e no nosso acerto de contas, simplesmente, abracei-o, contratando-o, inesperadamente, para tantos outros pequenos serviços. Abracei-o para evitar de, hipocritamente, entoar-lhe um adeus ano velho e desejar-lhe um incerto feliz dois mil e vinte dois com políticos; politicamente incorretos, clima erradamente judicioso (e tem governantes que não acreditam que o clima desvairado é fruto do desmatamento) e auxílios governamentais maldosamente escravizantes.
Efraín, pegou as notas merecedoras como estivesse pegando pérolas preciosas. Guardou-as rapidamente no bolso depois de envolvê-las num lenço branco. Um lenço branco encharcado pelo DNA de seu valoroso suor. Brinquei com ele:
— O sr. não vai contar o dinheiro??
Recebi dele, como resposta, um olhar e sorriso; valiosos como ouro.