ENCONTRO COM A STELLA

Se nem sempre Deus faz Seus filhos nascerem em boas famílias, por outro lado, enquanto Ele nos mantém vivos, nos apresenta uma série de pessoas e dentre elas aquelas que se tornarão nossos AMIGOS DE VERDADE, gente com quem temos afinidade de princípios e valores, os que teriam o nosso sangue, pertenceriam à nossa linhagem, se Deus tivesse nos permitido escolher. São pessoas com quem a gente ri ou chora pelos mesmos motivos e sou feliz por ter várias delas morando no meu coração, passeando nele com pantufas apenas para que não me firam em nada. Da minha parte, além de usar o mesmo tipo de calçado, por eles eu estou sempre disposta a dar o que eu tenho de melhor e, muitas vezes, demonstro meu sincero afeto, abraçando fortemente e dando um beijo estalado na face.

É verdade que, às vezes, a gente se engana e descobre que a qualidade da nossa amizade não é recíproca, que nossos valores e princípios são muito diferentes e que não vale mais a pena enquadrar o(a) sujeito (a) no grupo dos “QUASE IRMÃOS”. Quando descubro isso, eu abençoo a pessoa, aspiro apenas ao seu bem (eu não sou besta: sei que o que eu desejo ao próximo volta pra mim), mas RETIRO-A do meu coração e a condeno a NUNCA MAIS receber as coisas que eu só entrego a quem as merece verdadeiramente: meu abraço e a marca do meu batom vermelho no rosto.

Enquanto isso, Deus vai nos apresentando outros amigos e com eles a gente vai torcendo para que tudo vire oportunidades de encontros, em que sabemos que a amizade e as cervejas soltarão nossas línguas e nossos risos. Nessas ocasiões, quase sempre nasce no meu cérebro inspirações para alguma crônica escrever. A de hoje nasceu na noite de comemoração do aniversário de Arlete Molina, uma querida amiga, cuja família inteirinha passeia de pantufa no lado esquerdo do meu peito.

Um jantarzinho delicioso, feito pela própria aniversariante, cerveja geladíssima, convidados da família de sangue dela...e nós, uma meia dúzia de amigos, que gostaríamos de ter o mesmo hemolinfa, embora quase ninguém tenha ancestrais nascidos na Itália, como têm os membros da família da anfitriã. Em dado momento, a irmã caçula, Zika Molina, começou a relembrar fatos ocorrido na infância e na adolescência delas em Desengano, como forma de nos divertir.

Com orgulho relatou que o pai, Sr. João Molina, era um senhor pacato e brincalhão, enquanto a mãe, Dona Hermínia Favalessa Molina, fora uma pessoa de garra, muito atuante na escola e na igreja católica daquele Distrito de Linhares, ES. Dessa união nasceram 4 filhos e três filhas. Relembrou um fato hilariante ocorrido no tempo em que todos eram crianças: o dia do enterro do Pitoco, um dos cachorros da família. Os irmãos fizeram caixão, procissão e o levaram para a igreja, onde badalaram os sinos, chamando a comunidade para o velório. Bem, naquele dia todo mundo foi dormir com o “rabo quente”. Rs,rs,rs...

Quando chegou a idade de os filhos cursarem o ginásio, a família se mudou para Linhares e todos foram morar no bairro Shell. Logo, os filhos e filhas mais velhos começaram a trabalhar fora, além de ajudarem nos serviços domésticos, também. Nesse ponto, Zika disse que, em seu entender, a aniversariante era a filha queridinha da mãe, pois sempre fora poupada de fazer os serviços domésticos. Na infância porque tinha de “estudar, fazer as tarefas da escola”, na juventude porque estava “cansada por trabalhar fora”.

Dias de sábados eram dedicados a limpeza total da casa: varrer minuciosamente, passar pano, encerar, passar escovão, tirar o pó dos móveis, lavar e fazer brilhar os vidros e louças, arear os alumínios e os colocar para secarem ao sol, bater um bolo e fazer um pudim. Adivinha quem fazia tudo isso? Exatamente: a caçula, Zika, e a mais velha, Lourdes!

Enquanto trabalhavam, Arlete dizia que tinha de ir ao salão de beleza fazer as unhas e colocar rolinhos (bobbies) nos cabelos, pois tinha um compromisso com as amigas à noite. Ao chegar em casa, claro que ela “não podia ajudar”, pois “o esmalte ainda estava molhado”, mas costumava contribuir com a estética da casa, trocando de lugar alguns bibelôs.

Disse-me a narradora que, quando Dª Hermínia examinava o serviço ao término do dia, os elogios eram para quem? Isso mesmo: para a minha amiga anfitriã. Rs,rs,rs... Perguntei à Zika a razão dessa preferência maternal e ela me disse que a “predileta” fora a única que nascera com olhos verdes e com traços europeus.

Rimos demais naquela noite, inclusive Arlete, a “galega de zói verde”, mas ela jura que é tudo mentira da Zika, que fica com a língua soltinha toda vez que encontra com a Stella.... e complementou: Artois! Rs,rs,r.s...

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 30/09/2023
Reeditado em 04/10/2023
Código do texto: T7897675
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.