Controle

Minha mente, como já exposto em outra digressão, é um sistema a parte de todo o resto do meu organismo, tem vida própria e determina como meu corpo deve agir, mesmo ele implorando por uma pausa nos excessos e nos distúrbios, ela é implacável e não dá um minuto de trégua.

As pessoas imaginam que ansiedade é coisa simples de lidar, garanto que só pensa assim quem não vive em constante tensão e nervosismo, com um aperto no peito e uma sensação absurda de que algo ruim vai acontecer a todo momento, quem não sabe o que é não se desligar do que incomoda, sem conseguir se concentrar em mais nada que não seja aquilo, com um medo constante que descontrola todos os pensamentos que possam surgir, insônias e uma irritabilidade sem tamanho.

Sensações que em diversos momentos causam reações físicas desesperadoras.

A impressão é de morte instantânea: a boca seca, um suor frio começa, uma dor no peito, o coração acelera, a respiração fica difícil, o corpo treme, uma dor inexplicável na barriga e uma vontade enorme de vomitar.

Não queira saber como é!

Em busca de ajuda externa uma questão foi levantada e colocou em “xeque” essa mente cretina: Você não pode controlar tudo!

Será? Era o que ecoava ao ouvir essas palavras.

Quem disse? Minha mente egocêntrica questionava.

Quem é você para dizer o que eu posso ou não fazer? Oh, mente arrogante essa.

Posso não controlar tudo, mas posso ao menos tentar! Ainda rebatia ela.

Mas uma coisa ela não podia negar, realmente nem tudo estava sob seu controle.

As pessoas por vezes não seguiam o roteiro determinado, as coisas não saiam como planejado.

Em sua busca constante por controle, ela sempre, por óbvio, se deparou com situações das quais não teve controle algum, o que desencadeava um turbilhão de sentimentos e pensamentos enlouquecidos que tentavam a todo instante buscar uma saída lógica e racional, algumas vezes dava certo, outras não.

Se dava certo estava tudo bem, as coisas voltavam ao normal como ela gostava. Se não dava certo, era razão para um surto psicótico e o desencadear de mais um ciclo de sensações.

Diante da verdade absoluta de que “você não consegue controlar tudo!”, ela não tem resposta. E para não surtar, usa do mesmo artifício de outros que sofrem deste mal, ou mutila o próprio corpo, ou usa remédios diversos, ou busca no álcool e outras drogas um meio para se acalmar e esquecer que não é autossuficiente.

Desencadeando assim um ciclo vicioso de altos e baixos em sua autoestima, pagando o corpo físico por toda essa loucura.

Outras questões foram levantadas que terminou de destruir seus alicerces: O que exatamente te incomoda? Por que ter o controle é tão importante para você?

Óbvio que essas questões simples, mas objetivas, mexeram bastante com ela e após anos de lutas internas e externas pelo controle das situações sem muito sentido, após seu corpo não aguentar mais a intensidade de sensações impostas a ele e pedir pelo amor de Deus que pare, algo mudou e espero que esse algo continue mudando sempre.

Percebeu que sua busca pelo controle na verdade se tratava de uma busca incessante por aceite, aceite de si e dos outros. Não entendia ela que ser quem é era a maior bênção que Deus poderia ter lhe dado.

Descobriu que mesmo não sendo o que os outros gostariam que fosse, poderia ser amada sendo quem é, exatamente da forma que é, não precisaria mudar para ser aceita.

Essa descoberta deu a ela algo até hoje não experimentado - calma, paz e a certeza de que quem importa se importa com ela - e “os outros são os outros e só”, como diz o grupo Kid Abelha na música “Os outros”.

Outra descoberta fez mudar muitos conceitos já enraizados: nem tudo precisa ser dito, nem tudo precisa ser revelado, o passado não precisa te assombrar, não vai mudar, mas não define quem você é ou pode se tornar, o que importa é o presente, os fantasmas só assustam se os valorizarmos.

Não há como impedir que ocorra uma crise de pânico, ora ou outra, isso demonstra que está viva e tem sentimentos e emoções. O importante é empoderar-se e perceber que mesmo perdendo o controle externo, dá para controlar a forma como reage diante disso com a certeza de que não é o fim do mundo, o verdadeiro controle é controlar a si, focando no que realmente importa: sua felicidade e a felicidade daqueles que te amam.