NATAL TODO DIA
“NATAL TODO DIA”
Milton Lourenço
Este Natal, com certeza não será diferente dos anteriores. Só a partir do dia 15 de dezembro de qualquer ano, é que muitos se dão conta que tem um vizinho; que existem pessoas carentes, pessoas doentes, menores órfãos sem amor, idosos abandonados por seus filhos. Verdadeiros seres humanos precisando de ajuda.
Muitos passam 363 dias do ano sem falar com o próprio vizinho; sem se interessar com os doentes, com os menores carentes, com os idosos, com os deficientes físicos ou mentais, com os órfãos, com as mães solteiras, com os desempregados, com os menos favorecidos, com seus próprios filhos.
Da metade do mês de dezembro em diante até a virada do ano, o espírito natalino e os fogos do “reveillon” têm o poder de fazer muitas pessoas perceberem que não se está só, que existe alguém próximo e que não se nota.
Dezembro é o mês das entidades, tidas como filantrópicas, humanitárias ou assistenciais fazerem questão de dar o seu grito cada vez mais forte pelos quatro cantos, que estão fazendo campanhas do quilo, do agasalho, do Natal sem fome, do disso, do daquilo. São tantas campanhas que até surpreendem o mais demagogo que possa existir.
O comércio cheio de pessoas se endividando, cumprindo a obrigação natalina de dar o presente melhor do que o do vizinho, sem o verdadeiro espírito de amor, de nascimento diário dentro de cada um.
Asilos, hospitais, creches, orfanatos ou prisões não passam de depósitos para tudo aquilo que incomoda o “Cristão”, filho de Deus, que não pode ser importunado com coisas pequenas, como a infelicidade humana presente em cada esquina da vida.
Nos hospitais, nas prisões, nos orfanatos, nos asilos, nas creches, em todo canto, os gritos ecoam antes e depois do Natal e do Ano Novo, mas que apenas são ouvidos nestas datas por poucas pessoas que, pelo menos nestas datas, conseguem ouvir.
Pessoas que necessitam apenas de uma palavra amiga de incentivo, de compreensão, de alívio. Pessoas que só buscam um minuto de atenção para poder desabafar menos da metade de seus problemas, num “mundo” onde só se tem tempo para o dinheiro, para o poder, para a conquista diária, muitas das vezes tendo que passar por cima de quem quer que seja.
Pais que não têm tempo para ouvir seus filhos, mas que depois têm tempo para chorar nos hospitais, nas cadeias, nos velórios. E que a partir desse duro momento passam a ter uma visão mais realista e humanitária, fundando ou fazendo parte de organizações de ajuda, seja qual for a causa defendida. Como é importante perder alguns minutos do “precioso” tempo.
Todas as campanhas em nome dos necessitados são válidas, mas que apenas amenizam a realidade. Por mais que seja um sucesso, ela não dura o tempo necessário que muitos gostariam.
O grito “calado, silencioso e contido” sempre ecoará em todo canto até que alguém possa ouvi-lo em todos os dias do ano e não apenas nos natais e anos novos.
MILTON LOURENÇO