CASA DE CHÁ

No Recife dos anos 50 do século passado, sempre que íamos ao centro da cidade resolver não sei o quê, eu como acompanhante da minha avó que era deficiente visual, antes de voltarmos para casa tomávamos um chá na Casa Estoril que ficava na Rua Mathias de Albuquerque, ao lado da igreja de Santo Antônio no bairro do mesmo nome.

Os donos da casa eram portugueses, antigos conhecidos e quando chegávamos, a dona da casa vinha conversar com a minha avó enquanto eu deliciava-me com o chá preto com leite, biscoitos amanteigados, torradas, geleias, patés e demais acompanhamentos.

No ambiente finamente decorado, mesinhas com quatro cadeiras estofadas com tecido floral, chão impecavelmente limpo e o garçom que nos servia tinha todo aspecto dos mordomos ingleses, sisudo, caladão, cumprimentava ao chegarmos e depois de feito o serviço, afastava-se desejando “bom apetite”, mas permanecia vigilante para o atendimento imediato caso algum dos frequentadores levantasse a mão, mesmo que fosse apenas num gesto de eloquência nas conversas a meia-voz.

O Recife daquele tempo era em tudo diferente do que é hoje.

As pessoas se respeitavam mais, havia cortesia no trato mesmo entre desconhecidos, os pedintes de esmolas vagavam pelos bairros e raramente eram vistos pelo centro da cidade, os ladrões, descuidistas e batedores de carteiras de mãos leves não tinham a ousadia dos atuais, porque os policiais fardados e os comissários nas delegacias sabiam fazer a repressão ao crime e a justiça não era conivente como na atualidade.

Bandido era bandido; mocinho era mocinho. Eram reconhecidos e tratados como tal.

A temperatura amena devido a umidade fornecida pelos rios e pela brisa constante vinda do mar, faziam com que o convite para o chá, no finzinho das tardes, fosse irresistível.

Depois, no “carro de aluguel” do Sr. Anselmo (outro velho conhecido) voltávamos para casa em tempo de ouvir, pelo rádio, o capítulo de Jerônimo, o herói do sertão...